O impagável carnaval de outros tempos

O nosso carnaval de rua sempre foi diferente. Houve um tempo em que acontecia na Andradas/ Sarandi, sem arquibancadas nem isolamento, com as pessoas passeando livremente nas calçadas e acompanhando os grupos burlescos e musicais motorizados e a pé que eram muitos. Mas as pessoas tinham a liberdade de andar ou mesmo se misturar com os ‘mascaritos’ que passavam. O carnaval não se cobrava do público, pois era ele que fazia o carnaval com sua saudável participação, suas fantasias, seus frascos de lança perfume, com sua fragrância característica, seus confetes e serpentinas.

Naquele tempo (décadas de 50/60) o corso começava aí pelas 7 horas da noite e se prolongava até de madrugada. Na Andradas e Sarandi havia muitas mesas nas calçadas, porque os bares, que eram muitos de ambos os lados, estendiam suas mesas por duas ou mais quadras com vários garçons para atender o público. As famílias (havia muitas residências na Andradas e Sarandi) ficavam nas sacadas de suas casas ou colocavam cadeiras nas calçadas. Todos curtiam o carnaval, pois as pessoas geralmente saíam fantasiadas; toda uma família se fantasiava para sair à noite ou permanecer na frente da casa ou nas sacadas, admirando o ‘corso’ internacional, que consistia numa passarela de veículos de todos os tipos, a maioria deles com foliões cantando e pulando. E o público não ficava como simples espectador. Ele participava. Esse público era formado por santanenses, riverenses e turistas que vinham já fantasiados, das localidades próximas do Brasil e do Uruguai, e até de lugares mais distantes.

Portanto, o nosso carnaval não era pago, nem um centavo para ser visto, pois todos eram seus protagonistas. Mas os bares e o comércio de lanches nas ruas lucravam muito. Também as lojas, com a venda de fantasias, de máscaras e lança-perfumes (que não eram proibidos), e a profusão de confetes e serpentinas. Era gostoso de caminhar sobre os tapetes fofos de confetes que cobriam as calçadas, enquanto as serpentinas formavam um emaranhado de papel fazendo com que as calçadas ficassem parecidas com uma selva multicolorida.

Nesses carnavais não havia falhas nem atrasos, pois nada era previamente estabelecido (quem iria desfilar primeiro, o nome de grupos musicais, etc). Tudo era mistério e surpresa. As ruas se transformavam num baile de máscaras e fantasias. E o carnaval acontecia naturalmente, feito pelo povo.

Este era o nosso carnaval, com vários grupos carnavalescos e seus instrumentos de sopro e corda, violinos, apitos, cavaquinhos, clarinetas e variados gêneros musicais (marcha, mambo, salsa, rumba, frevo, cúmbia). Todos os instrumentos e ritmos eram bem vindos. A partir de 1975 estes instrumentos foram proibidos e substituídos exclusivamente pelos de percussão. E o nosso antigo carnaval e seu instrumental desapareceram. Restou-nos o consolo da batucada das escolas de samba e o carnaval das arquibancadas.

 

Luciano Machado

 

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