Dilma e a chance da grande limpeza

É incrível – ou melhor, absurdo e absolutamente surreal – o que ocorre hoje na política brasileira.Há cerca de vinte dias, quando embarquei para Portugal, ficou aqui neste espaço uma pergunta: os brasileiros farão mesmo um protesto coletivo contra a corrupção e os desmandos na administração pública do país?

Revelei minha pouca crença nessa hipótese e a desconfiança se justificava: até agora, nada aconteceu, afora alguns isolados protestos. Mas o surreal do primeiro parágrafo é o que ocorreu nesta última segunda-feira no Senado Federal. Inspirados por Pedro Simon, outros oito senadores, entre eles Ana Amélia Lemos e Paulo Paim, compareceram ao plenário para um gesto de solidariedade e apoio à Presidente da República, Dilma Roussef, por seus atos de “limpeza” de ministérios onde há denúncias de corrupção.

Atentem bem. Foram apenas nove senadores, de um total de 81 representantes do povo naquela Casa que se dispuseram a participar do movimento que pretende ter caráter nacional, em favor da causa da decência e da ética na administração pública.

Mas e os demais, incluindo os aliados da presidente?

Pois estes, ou tem coisa mais importante a fazer; ou estão abrigados na trincheira da obstrução a medidas de interesse do governo, como forma de mostrar sua desconformidade com os atos de “faxina” da presidente Dilma; ou simplesmente tratam de acobertar os denunciados, porque a eles se vinculam, política e financeiramente. E a população parece distante de tudo isso, como se a ela pouco esteja a importar o futuro do país. Retornei dessa passagem por Lisboa no final de semana, véspera do Dia dos Pais e trouxe na bagagem, entre outras coisas, um exemplar da edição de 11 de agosto do jornal Público, um dos mais importantes da imprensa portuguesa.

Além de uma página inteira sobre os episódios que envolveram os ministérios dos Transportes, Agricultura e Turismo, e o Chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, um dos tópicos da página de editoriais é dedicado ao Brasil e, muito especialmente, à presidente da República.

Com o título de “Um fardo incômodo para Dilma”, o editorial lembra que, durante a campanha eleitoral, a presidente já havia prometido combater a corrupção. E acrescenta: “Mas nessa altura talvez não suspeitasse que, depois de eleita, o “incêndio” chegaria tão perto do lugar que ambicionou e hoje ocupa.” Mais adiante, depois de lembrar os vários afastamentos de ministros, pergunta: “Isto já vinha de trás, dos tempos de Lula?”

E responde que a corrupção no Brasil não é um fato novo, “mas o principal problema, para Dilma, é que ela deixa marcas não apenas no seu próprio partido, o PT, como no seu principal aliado, o PMDB.” Termina dizendo que “a forma como Dilma lidará com estes novos escândalos é crucial para que a sua popularidade não se afunde na opinião dos brasileiros”.

A esta altura, digo eu: ou a população, via redes sociais e organismos da sociedade civil, trata de se organizar em apoio à presidente da República, ou perderemos uma oportunidade única de mudar hábitos e comportamentos nada éticos e extremamente danosos à imagem do país.

 

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