Cansei da Sustentabilidade”

Sim, você leu certo – cansei da “sustentabilidade”; mas não tire conclusões precipitadas; acompanhe meu raciocínio.

Obviamente que não estou contradizendo tudo em que acredito e nas diversas opiniões que tenho emitido;não se trata disso. Meus princípios não se corromperam. Sigo acreditando no equilíbrio entre produção e meio ambiente; que toda e qualquer atividade agropecuária tem que zelar pelas condições de trabalho dos seus colaboradores; e que os sistemas de produção devem se pagar e gerar renda condizente aos anseios e a satisfação do produtor rural.

Estou cansado é da palavra “sustentabilidade”e da forma como ela vem sendo utilizada.

Esse termo está na boca de todos e por todos os lugares. Desde a oficina de carros da esquina a padaria aqui do lado, todos se dizem “sustentáveis”.Profissionais dos mais variados setores, palestrantes e “doutores”, todos falam e abordam,do auto da sua “excelência”, esse já vulgarizado tema.

Todos os “fala-fácil”incluíram em suas falas o viés da sustentabilidade, mesmo que, muitos só saibam dizer que ser sustentável é “ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto”.

E qual o motivo para essa enxurrada terminológica?Dentre os inúmeros fatores possíveis, acredito que o modismo do termo é o que mais atrai os oportunistas; “… já que todo mundo tá falando, eu falo também”; “… já que toda a empresa diz que é (sustentável) eu digo que a minha é também”. Com essa mentalidade, pessoas e empresas passaram a se autopromover e usar desse artificio para se diferenciar no mercado.

Ser sustentável?Esse status de empresas e organizações não é uma coisa que se conquista do dia para anoite. Tem-se um longo caminho a percorrer. Muito mais que ação, antes, é necessário que se incorpore a filosofia produtiva que conduz diariamente a práticas condizentes com tal perfil. O que se vê com muita frequência por aí são instituições que praticam a sustentabilidade em algum nível (incompleta). Em muitos casos, logo ali se contradizem, agindo de forma antagônica à mensagem que veiculam aos quatro ventos.

Além de ser, é indispensável comprovar. Essa é uma discussão que pretendo abrir para o próximo ano. Será que tudo o que as empresas dizem ser/fazerde fato o são/fazem? Como estão seus processos operacionais? Existe uma certificação? É possível confiar nesse processo certificador que confere selos aos montes? Preparem-se! Vêm coisas”cabeludas” por aí.

Conheço inúmeras empresas com ISO, BPF e assemelhados, que estão de cabeça pra baixo. Será que isso se repte no aspecto “sustentabilidade”? Vejo tantas empresas com ações que se contradizem no ambiente interno do seu funcionamento.Do que adianta usar só papel reciclado, se o copo d’agua é descartável e usado de forma indiscriminada? Do que adianta não usar copo reciclável se existe um uso desmedido de energia elétrica? Do que adianta ter um discurso politicamente correto se em casa você não separa o seu lixo?

Essas e outras tantas questões são exemplos de condutas desencontradas, que não fecham com o perfil pretendido. Por mais que se saiba das dificuldades de atender a todos os requisitos para a fullsustainabilityé imprescindível que essas ações sejam visualizadas de ponta a ponta do processo produtivo de cada empresa. Claro que, quanto mais, melhor. Se não dá pra fazer tudo, faça o máximo possível. O que não se pode aceitar é a lei do mínimo esforço, ou seja, “minha empresa planta umas mudinhas todo final de ano e por isso sou bacana”. Não força!

Por fim, é lógico que não cansei da filosofia e das práticas que beneficiam e preservam o meio ambiente. Estou farto é do discurso. Aproveitando o momento de muita discussão em torno da grande lei ambiental que orientará o futuro do nosso setor primário (código florestal), espero que tenhamos um futuro de mais ação e menos discurso. Não vamos produzir em respeito ao ambiente só porque o mercado está nos cobrando ou porque “pega bem”. Vamos ser maiores e assim fazê-lo. Pelo bem da nossa casa e das gerações futuras.

Valeu pelo ano de 2011.Um ótimo 2012 a todos, com muito mais compatibilidade ambiental (acabo de inventar esse termo para fugir da famigerada expressão). Grande abraço!

 

Médico Veterinário, com experiência em estratégias de desenvolvimento setorial, marketing em agronegócios e plataformas de desenvolvimento sustentável.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.