Engenheiros Ecossistêmicos

2006 foi o ano! Médico veterinário com quatro pra cinco anos de experiência no campo, concluí que o meu trabalho (na época de consultor pecuário) deveria ir muito além da simples “gestão do negócio”. Além de “administrar fazendas”, colocando metas e perseguindo a melhoria constante dos principais indicadores bioeconômicos, foi naquele ano que percebi que a minha função era muito maior. Desde então, e muito pelo trabalho desenvolvido no Estado de Rondônia, acrescentei com naturalidade ao meu perfil profissional,o olhar de um gestor preocupado com compatibilidade ambiental da atividade.

Tenho tido a oportunidade de participar de uma grande quantidade de eventos do setor, reuniões com grupos de produtores, além das frequentes conversas individuais com os homens do campo. Em cada uma dessas ocasiões, percebo uma mudança significativa do nível de consciência ambiental do produtor rural brasileiro. Com frequência destaco em minhas manifestações que o produtor rural brasileiro não é o criminoso que “pintam”. Por mais que exista uma minoria que ainda age de forma irresponsável no campo, a maioria do produtor é um ser consciente das suas responsabilidades, inclusive com a natureza.

Nas minhas andanças, já tive a oportunidade de falar para grupos de produtores que foram simplesmente esquecidos por todos. Já dei palestra educacional – como objetivo deconscientização – em áreas de conflito na Amazônia. Percebia que muitos dos quais estavam sendo criminalizados, na verdade, tinham ficado a margem dos processos da evolução tecnológica do campo. Faziam errado por desconhecimento, por falta de informação simples que pudesse efetivamente contribuir com o seu dia-dia de produtor rural. Essa é sempre uma análise que faço para situar os desavisados, que insistem em intitular de bandido os produtores rurais, como se todos tivessem acesso à internet, recursos para pagar um técnico particular para lhe dar assistência ou ainda, vivessem todos próximos as grandes cidades, rodeados de informação. O Brasil é muito mais complexo que isso; Não é possível fazer análises simplistas.

Mas o fato é que o produtor rural está cada dia mais consciente de suas responsabilidades e isso não poderia ocorrer em momento mais oportuno. Estamos prestes a ter significativas alterações na legislação ambiental brasileira, a pressão no mercado mundial de alimentos só aumenta e estamos lidando com um consumidor cada vez mais exigente. Temos uma nova realidade diante de nós e dentro desta nova ordem o produtor rural brasileiro deve assumir a função de um engenheiro ecossistêmico.Ouvi pela primeira vez essa expressão, recentemente, numa fala do Prof. Paulo Carvalho (UFRGS).

Nessa ótica, o produtor rural é o maestro da propriedade rural, que organiza e conduz muito mais que terra, animais e plantas. Cada propriedade rural representa uma quantidade enorme de vida, que em diferentes graus, precisam de intervenções dos gestores, pelo uso sustentável.

Pastagens…Além de terem a função de alimentar os rebanhos e gerar lucro como atividade comercial, é um grande ecossistema onde vivem insetos, microrganismos, vegetações secundárias e animais silvestres, que fazem toda a diferença na perpetuação e na saúde desse arranjo. Uma pastagem é um ecossistema vivo que – seadequadamente manejado – alémde gerar divisas ($), contribui positivamente para mitigação dos gases de efeito estufa, e portanto, confere um saldo ambiental positivo para a atividade pecuária.

Água…Suas nascentes, mananciais e a mata ciliar, elementos complementares que se fundem para constituir um sistema vital para a atividade do setor primário. A adequada condução de toda essa vida – animale vegetal – équem solidifica a estrutura necessária ao meio. Muito mais que árvores em beira de rioe banhados, devemos enxergá-los como um arranjo de pássaros, mamíferos e insetos que polinizam e semeiam o sub-bosque, perenizando-o no tempo. Isso confere sustentabilidade ao sistema.

Ao produtor, um recado: siga no rumo que escolheu! O de produzir alimentos, cultivar o solo e retirar dele o seu sustento e a sua felicidade, com total observância do meio. Conte conosco.

E aos barulhentos, midiáticos e irresponsáveis críticos do agronegócio brasileiro… CONTRIBUAM! Muito mais do que os seus maléficos e equivocados comentários, o campo precisa da força de todo o brasileiro capaz de auxiliar aqueles que lá estão. Pensem nisso.

 

 

Consultor Empresarial em Agronegócios, com experiência em estratégias de desenvolvimento setorial, marketing em agronegócios e plataformas de desenvolvimento sustentável.
roberto.grecelle@gmail.com | twitter.com/robertogrecelle | Porto Alegre – RS.

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