Atitudes do Campo

Perseguindo o objetivo de se transformar no Estado que produz a melhor carne bovina do País, para proporcionalmente ser melhor remunerado por isso, o RS necessita produzir carne de forma a atender o que os mais interessantes centros consumidores estão demandando.

Para atingir esse padrão de qualidade tão desejado, em quantidade suficiente para abastecer os mercados de ponta a ponta do calendário anual sem grandes depressões na oferta, alguns obstáculos precisam ser vencidos. De forma resumida, passo a enumerá-los:

Rastreabilidade – eis um tema densamente abordado pelo setor, discutido há muito, mas insuficientemente executado. Afora todas as discussões e dificuldades enfrentadas pelo setor em relação aos custos, padrões operacionais no manejo, documentação e controles estratégicos, fica a certeza que pouco se avançará sem a elaboração de um prático e exequível programa de rastreabilidade bovina, capaz de atender aos mais interessados consumidores. Essa é uma exigência, que antes da indústria, é demandada pelo consumidor moderno.

Certificação – em linhas gerais significa autenticar a carne bovina, conferindo-a um selo de conformidade segundo um modelo produtivo pré-estabelecido. Eis uma grande oportunidade de negócio para o Estado. O RS tem a oportunidade de ser um dos pioneiros desse processo, fazendo vanguarda na produção de carne acreditada por órgãos oficiais e organismos privados, o que conferiria um grande diferencial.

Padronização – esse desafio (o de padronizar rebanhos, carcaças e cortes) data doséculo passado. Por mais que em primeira análise isso seja uma possibilidade de diversificação e tenha ligação direta com a subjetividade de cada criador (preferências raciais), eis uma grande desvantagem da pecuária de corte gaúcha em relação ao resto do Brasil. Em nenhuma outra unidade da federação se encontra uma pluralidade racial tão grande quanto aqui (no RS). De forma geral, pode-se afirmar que os estados produtores de carne tem a base genética do seu rebanho formada por zebuínos (Bosindicus), flutuando entre cinco ou seis raças predominantes. De forma contraria, o RS apresenta mais de duas dezenas de raças na composição do seu rebanho. O problema não está no número de raças existentes, afinal isso é uma questão de preferência pessoal e técnica; o problema existe na medida em que, fora das cabanhas e rebanhos controlados, uma grande miscigenação racial ocorre de forma totalmente desordenada. Embora exista uma tendência à predominância de duas ou três raças, eis um fator a ser tecnicamente abordado a fim de diminuir a variabilidade dos animais produzidos (características de carcaça).

Diferenciação – eis uma outra grande oportunidade de negócio para o Estado. O RS reúne em suas características edafoclimáticas condições inigualáveis para um produtor de carne diferente dos demais. Base pastoril nativa, possibilidades quase que inesgotáveis para sistemas de produção integrada, integrante do bioma pampa, vínculo cultural e histórico do homem com o campo e diversidade de paisagens agropecuárias, conferem ao RS uma capacidade quase que insuperável de se tornar um “produtor diferenciado de uma carne superior”. Talvez a saída esteja em setores próximos à pecuária, como a vitivinicultura gaúcha. A profissionalização do produtor gaúcho de uvas e vinhos conferiu ao setor uma posição de destaque em âmbito nacional e internacional. A denominação de origem – vale dos vinhedos – confere uma distinção absoluta no mercado de vinhos e sucos de uva.

Comunicação – ao se evoluir estrategicamente nos tópicos acima e em tantos outros que se julguem contributivos a esse fim, o Estado deve organizar uma ação conjunta, de comunicação de massa. O Brasil e o mundo precisam redescobrir esse RS. Os consumidores precisam ser informados a cerca do ambiente produtivo e dos sistemas produção usualmente praticados, além, é claro, das características do produto resultante dessas realidades.

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