A tentação irresistível de censurar
Depois da Argentina, agora é a vez do Equador.
De quando em quando, aparece na América Latina um novo personagem político a questionar a liberdade de imprensa.
É simples a razão: ela incomoda quem está no poder.
O presidente Rafael Correa, desde que assumiu o governo, em 2007, iniciou um combate sistemático à imprensa livre do país: expropriou canais de TV e rádio; usa as verbas de publicidade do governo de forma discriminatória e busca na justiça a condenação de profissionais que o criticam.
Na última semana, as coisas se agravaram.
Os jornalistas Juan Carlos Calderón e Cristian Zurita foram condenados, em primeira instância, a pagar uma multa de US$ 2 milhões pela publicação do livro “El Gran Hermano”, no qual eles denunciam episódios de corrupção vinculados a um irmão de Correa.
Já o jornal “El Universo” foi condenado por injúria pela coluna do editor de opinião, Emilio Palácio, que chamou o presidente de ditador e questionou sua atuação durante uma revolta policial. Por dizer isso, ele recebeu três anos de prisão e uma multa de US$ 40 milhões.
Palácio não teve outra alternativa senão pedir asilo político nos Estados Unidos e dois dos irmãos proprietários do jornal estão no exterior. O terceiro já pediu asilo ao Panamá.
Há mais um caso significativo: o jornalista Wilson Cabrera, dono e locutor da rádio La Voz de La Esmeralda, da cidade de Macas, teve sua rádio tirada do ar pela polícia. Os cabos e antenas foram arrancados. Alegaram que ele transmitia sem autorização.
Cabrera protesta:
- Não é verdade. Me tiraram a rádio porque eu denunciava casos de corrupção. Esse governo, em vez de apurar as denúncias, volta-se contra os jornalistas”.
Não pensem que é tudo. Vem mais pela frente: a lei eleitoral e a de comunicação.
- Se ambas forem aprovadas, não será mais possível fazer jornalismo no Equador”, diz Ricardo Trotti, diretor da Sociedade Interamericana de Imprensa.
A lei eleitoral foi aprovada neste mês de fevereiro. Ela impede que os meios de comunicação publiquem matérias apontando aspectos negativos ou denúncias contra candidatos nas próximas eleições de 2013.
A outra lei, a de comunicação, se aprovada, vai determinar que apenas 33% das empresas poderão ser de controle privado. Conforme o diretor da SIP, na prática, o governo de Corrêa vai controlar, com 66%, os meios de comunicação.
Não pense que o Equador está distante e é uma realidade isolada.
Dominar a imprensa, impor-lhe condições e cerceamentos, é uma vontade generalizada entre governantes.
Na América Latina, especialmente, essa questão é muito sensível. Conforme o jornalista Emilio Palácio, de “El Universo”, hoje sobrevivendo em Miami com suas poupanças, “há um processo em toda a América Latina”.
Ele tem razão. Aqui no Brasil, em várias gavetas, há projetos para amordaçar jornalistas e a liberdade sob o pretexto de
“democratizar a imprensa”.
É uma tentação aterrorizante.