PERFUME DE CIPRESTES …

Olhando uma foto antiga, num suplemento esportivo de A Platéia, em que aparece o radialista Romildo Gonçalves entrevistando no meio do campo do Armour Futebol Clube a um jogador, eu me lembro de que, na década de cinqüenta, aquele estádio era um lugar bastante aprazível nas tardes de domingo, quando aconteciam jogos entre os quadros locais e times oriundos de vários pontos do nosso Estado, do País e do Exterior. Grandes partidas foram realizadas ali no Estádio Miguel Copatti, nos áureos tempos de nossos clubes: Armour, Quatorze, Grêmio e Fluminense, e de seus atletas, como Pascualito, Amarante, Schroeder, Pé-de-Bolo, Adãozinho, Eli Barcellos, Adilson, Bahia, Bino, Billy, Conrado, Caçapava, Nery, Iruleguy, Luis Carlos, Ney Savi, Sonha, Pantera e tantos outros.

O estádio do Armour era todo cercado de ciprestes, e o cheiro destas plantas, que recendia ao contato com o público, se fazia sentir ao longe, nas tardes em que se realizavam as partidas. Esta fragrância, característica dos ciprestes, se misturava no ar à dos eucaliptos e das demais plantas nativas, dos vários sítios e quintais arborizados que embelezavam naquele tempo o recinto do Armour e suas adjacências.

Do lado direito da avenida, de quem vinha para o centro, onde hoje são áreas residenciais, naquela época uma densa floresta de eucaliptos margeava a então denominada carreteira do Armour (hoje Avenida Francisco Reverbel de Araújo Góes), desde o recinto do frigorífico até o início da zona urbana. Do lado esquerdo, a partir do bairro Industrial, onde atualmente se situam a vila Bela Vista, o bairro da COHAB e o parque residencial Severo de Abreu, eram apenas chácaras e quintais.

Para aqueles que residiam no centro da cidade, empreender um passeio pela avenida do Armour até ao estádio, era um verdadeiro mergulho no silêncio da natureza, lá pelos anos cinqüenta e início dos anos sessenta.

Para os moradores do Armour e do Bairro Industrial, na medida em que a tarde caía, era com sempre renovado prazer que nos finais de semana saíam a passear a pé e a tomar mate ao ar livre, naquelas imediações, sentindo a brisa límpida e a fragrância pura das plantas e flores dos referidos sítios, pomares e jardins, para em seguida, ao anoitecer, irem assistir a uma sessão no cineminha do Armour, que se situava ao lado do armazém da dona Jacira, a poucos metros do estádio de futebol.

Como sobreviventes daquela paisagem antiga, restam ali o eterno e inexorável Cerro do Armour, com sua estampa fulgurante recortada no azul do céu e proporcionando um maravilhoso espetáculo nas noites de lua cheia; a Avenida dos Plátanos (Guilherme C. Bond), asfaltada pelo saudoso prefeito Glênio Lemos, com o seu verde corredor de árvores e suas bonitas residências em estilo colonial; as antigas mansões, outrora habitadas pelos patrícios da companhia, hoje residências particulares, com seus belos pátios gramados e jardins; o prédio da gerência (hoje Solar Dom Pedro); a área do frigorífico e o que restou de suas instalações; o prédio do refeitório (“Pinche”); o Clube de Bocha e Xadrez; o antigo Chalé dos Solteiros, transformado em condomínio residencial; e lá em cima, o sobranceiro e aristocrático Clube Campestre, com o seu bonito e bem conservado campo de golfe.

Quanto ao velho estádio de futebol, lá permanece, já sem o perfume dos ciprestes, com o que resta do que foi em sua época de grandeza, num dos recantos de maior beleza natural do nosso município e de nossa fronteira.

Luciano Machado

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