Passeio por outrora

Naqueles tempos não havia miséria. Havia fome, sim, precariedade social. Mas não tanto quanto aumenta hoje. A palavra dada era cumprida, custasse o que custasse. Não havia discursos vãos, palavras ao vento nos negócios e – pasmem! – até na política.

Naqueles tempos, o fio do bigode garantia o pagamento de qualquer dívida.

Não havia guri metido a malandro querendo cometer crimes, assaltando idosas em pleno centro, furtando bolsas, carteiras, pedindo troquinho, prometendo riscar carro se não recebesse o que queria. Não havia uso de motocicletas para assaltos à mão armada em casas comerciais. Naqueles tempos, para sair da calça curta, só com barba no rosto. Não havia “pegas” de motos ou de automóvel colocando em risco a vida dos cidadãos. Naqueles tempos, tinha até agente público que pegava um mate e passava todo o dia de rua em rua, chefiando pessoalmente os consertos, reparos e as ações de melhoria da cidade.

Há, ainda, os mais usados pela vida, em um relembrar daqueles tempos em que criminalidade e violência eram assuntos distantes, pois os temas das conversas, além das praxes, eram as informações da vizinha “corujinha”, que ficava na janela o dia inteiro, “cuidando” para a vizinhança. No tempo antigo, era possível sentar no parque Internacional ou em qualquer praça da cidade, depois das 22h, em uma noite quente, sem sentir o olor do yuyo (ou erva) sendo queimado. Ou correr o risco de ser assaltado e morto.

Era, mais ainda, natural colocar a cadeira na frente da casa para o chimarrão de tardezinha, sem se preocupar com transeuntes suspeitos que circulam hoje pelas quadras das vilas e bairros, de ponta a ponta. Naquele tempo, quem andava dirigindo o automóvel podia ver pedro e paulos circulando próximo às escolas a todo o segundo. Naqueles tempos ainda havia políticos que cumpriam o que prometiam, os governos, nas três esferas, ainda se preocupavam com a cidadania, pois a corrupção só engatinhava, não dominava.

Na Fronteira antiga, que o tempo se encarregou de fazer sucumbir, havia muita diferença, perceptível e compreensível, inclusive pelas histórias que os avôs, avós e pais contam a seus filhos nos últimos anos. O positivo das conversas que relembram o passado dos anos 40, 50, 60, 70 e 80 – e em casos muito especiais, até antes disso – pode ser encarado de forma peculiar, pois se o tempo não volta, pelo menos ter uma ideia de como era pode, mesmo que remotamente, servir para se ter uma ideia de como poderia ser o agora se cada um fizesse sua parte e um pouquinho a mais. Serviriam essas histórias daqueles tempos, realidades que a memória das gerações anteriores preserva, para iluminar o caráter de quem faz o presente e fará o futuro.

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