A preocupante greve baiana

Essa perigosa greve da Polícia Militar da Bahia está preocupando, com justificada razão, o governo federal e governos de outros Estados, entre eles o Rio Grande do Sul.

Não se trata de uma greve de trabalhadores comuns. Além de pertencer aos quadros do funcionalismo público, com direitos sempre superiores aos daqueles que atuam na iniciativa privada, fazem parte de um grupo que utiliza armas pagas pelo Estado para defender a sociedade e a ordem pública.

Não se deve negar a ninguém o direito à reivindicação. Mas daí a partir para práticas criminosas, com atos de coerção e de vandalismo, vai uma enorme distância.

Reivindique-se por melhores salários dentro da lei, com responsabilidade e com respeito aos cidadãos comuns que, neste caso, os grevistas deveriam proteger.

O governo federal manifesta sua apreensão com a greve pelo temor de que se trate de um movimento organizado, capaz de se estender a todo o país, o que seria um caos.

Teme-se também que a greve seja estratégica para buscar a aprovação da PEC 300, em tramitação no Congresso, instituidora de um piso nacional para a categoria dos policiais militares. O governo é contra essa emenda constitucional, diz que não há recursos para cobrir os valores do piso.

Na noite desta terça-feira, 7 de fevereiro, a greve baiana completa uma semana e quase nada mudou desde que os os PMs tomaram de assalto o prédio da Assembléia Legislativa do Estado. As negociações não avançam.

A paralisação provocou uma onde de violência em Salvador e na região metropolitana. O número de homicídios dobrou nesses dias, em comparação com o mesmo período do ano passado. Sem policiamento, uma onde de saques e arrombamentos sacudiu a capital baiana; centenas de carros foram roubados e dezenas de lojas destruídas.

Para reforçar a segurança, a Bahia solicitou o apoio do governo federal e cerca de três mil homens das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança foram enviados a Salvador. As tropas ocupam bairros da capital e monitoram portos e aeroportos.

A Justiça baiana concedeu liminar decretando a ilegalidade da greve e doze mandados de prisão contra líderes grevistas foram expedidos.

Esse é o quadro e, a par disso, é interessante observar o jogo político.

Em 2001, a mesma Polícia Militar da Bahia deflagrou uma greve que também acabou em violência. Naquela ocasião, o PT defendeu a legitimidade do movimento e responsabilizou o governo, então comandando pelo PFL.

Agora, o governador Jaques Wagner (PT) que, em 2001, contribuiu com dinheiro para financiar aquele movimento, hoje considera os grevistas bandidos.

O principal líder da greve de hoje, Marco Prisco, surgiu para a política sindical em 2001, pertencia então ao PT. Depois de transitar pelo PCdoB, PSOL e PTC, está filiado ao PSDB desde outubro do ano passado.

Ele afirma que Jaques Wagner é leviano ao dizer o que disse: que os grevistas são os responsáveis pela onda de violência no Estado.

Nada como a alternância do poder para melhor identificar os sentimentos políticos.

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