Política necessária

Alguns conceitos científicos afirmam que o ser humano é tão mutável quanto a própria vida. Mas existem alguns elementos que não se modificam. Passam, pois nada se perpetua, nem mesmo a memória (partindo-se do princípio de que as pessoas esquecem de pessoas e situações). Na política também é assim. O único fator imutável é a desonestidade, a corrupção, a ilegalidade, o ilícito. É como se tenebrosas transações continuassem a ocorrer, só para lembrar um dos trechos do excelente compositor brasileiro Chico Buarque, na música Vai Passar. A vida, entretanto, é boa, loucura gentil da senilidade democrática, em pese a nefasta presença pública dos politiqueiros cuja retórica enganosa e profana incapacidade passam um atestado de incompetência para a essência do processo político. Há quem diga que política é uma só, não é nem boa, nem má. É política. Nicolau Maquiavel – por muitos pessimamente interpretado como a pura expressão do Mal – em seu O Príncipe já estabelecia a realidade tal qual ela é, ou seja, tal qual as pessoas querem que ela seja. Na mutabilidade do cotidiano, o que permanece também é a vontade de mudar, de eliminar o nefasto, corruptos e corruptores; desde publicitários carecas que hoje, de cabelos implantados, finalmente são vistos algemados até o histórico “rouba, mas faz”. Vai passar, nem que leve décadas, a evolução da liberdade (Chico, de novo) até o dia clarear.

A história brasileira conta, por exemplo, a biografia de Adhemar de Barros, na São Paulo dos anos 30 a 60 e no Brasil daquele então, tamanha a influência que tinha esse extinto político. “Rouba, mas faz”, é uma expressão ouvida até hoje quando o tema é Adhemar de Barros, que realizou inúmeras obras e, em determinado momento, póstumo inclusive, acabou sendo alvo de escândalos, até com um cofre cheio de dólares.

Ao fim, percebe-se que a corrupção é mais antiga do que se possa supor. Mas, em verdade e pelo bem de todos os cidadãos, é preciso por um fim nela. E isso, essencialmente, é mudar. Transformar a realidade. Não apenas acreditar que tudo de ruim vai passar, mas desenvolver ações nesse sentido, auto-provocar a necessária reação. É um nível de consciência coletiva que pode representar em curto espaço de tempo a diferença entre o bom e o ruim, o progresso e o retrocesso, o equilibrio social ou uma temível instabilidade que resulte na explosão da indignação de um povo heróico que merece receber de volta o mesmo amor terrunho que dedica a sua Nação.

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