Após 19 anos, a Juíza Tânia da Rosa deixa a cidade nesta quarta

Reconhecida pela carreira e por ter se tornado uma referência para os colegas de profissão, a Juíza da Vara Criminal irá atuar em Porto Alegre

Cleizer Maciel
cleizermaciel@jornalaplateia.com

A Juíza da Vara Criminal de Sant’Ana do Livramento, Tânia da Rosa, despede-se da cidade nesta quarta-feira

“Foram quase vinte anos de uma relação que gerou muitos amigos, laços profundos com uma cidade que aprendi a amar e a entender o funcionamento. Defino minha vida em Sant’Ana do Livramento como a de uma pessoa privilegiada pela sorte. Vim para cá em uma época em que pensava em voltar para Porto Alegre, e isso não aconteceu, porque me deparei com uma cidade acolhedora, um ambiente de trabalho excelente, e aquela hipótese de voltar para a capital aconteceu logo depois, mas eu já estava definitivamente ambientada em Livramento. Resolvi permanecer aqui, abri mão da ascensão na carreira para ser feliz no lugar que escolhi”. A frase, dita pela Juíza da Vara Criminal em Sant’Ana do Livramento, Tânia da Rosa, 55 anos de idade, e que está deixando a cidade depois de 19 anos de atuação, marca um pouco do sentimento nutrido pela magistrada pela cidade em que passou boa parte de sua carreira exercendo a função. Formada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica – PUC, em Porto Alegre, no ano de 1984, iniciou sua carreira como Juíza já em 1987, passando pelas cidades de Itaqui, Uruguaiana, Santo Cristo até chegar e permanecer em Sant’Ana do Livramento, de onde se despede oficialmente nesta quarta-feira. “Só posso me considerar uma pessoa de sorte por ter encontrado na minha carreira profissional, que é árdua, uma cidade com tantos predicados e um local tão acolhedor como foi Livramento em todos os aspectos”, frisou ela. Ao ser questionada sobre se sua opção de permanecer na cidade foi um acerto, a Juíza afirmou não ter a menor dúvida disso. “Eu não mudaria em nada. Se tivesse que repetir, faria tudo de novo com o maior prazer”, disse.

 

 

 

 

A Plateia: Como a senhora vê o fato de um Juíz ficar em uma cidade tanto tempo?

Tânia da Rosa : As pessoas sempre questionam esse fato, mas em primeiro lugar, temos a inamovibilidade, que não é por questões políticas que um Juiz pode sair de uma Comarca. Ele só sai quando achar que deve sair. Não tendo problemas com a comunidade, ele pode ficar a vida inteira em um local. Foi o que eu fiz, e é o que muitos outros colegas fazem, como a Drª Mirtes, a Drª Rosi, o Dr José Eduardo Gonçalves, e o Dr Marcelo Gonzaga, por exemplo. Pessoas que estão completamente habituadas e que encontraram aqui muita qualidade de vida. O trabalho nos consome muito tempo e tem que ser feito onde nos dê mais satisfação pessoal.

A Plateia: A senhora deixa a cidade para seguir trabalhando ou para descansar?

Tânia da Rosa: Eu poderia estar aposentada, mas vou continuar trabalhando em Porto Alegre. Não estou planejando nada, mas vou seguir tentando fazer o melhor e por quanto tempo eu achar que deva permanecer. Faço isso há quase trinta anos e não pretendo me aposentar.

A Plateia: Um Juiz criminal necessariamente tem que ser duro?

Tânia da Rosa: O Juiz tem que ser justo. Certamente ao longo da minha carreira devo ter cometido muitas injustiças, mas o Juíz, apesar de parecer uma pessoa mais enérgica, mais dura, precisa ser sempre justo. Trabalho com o que é mais caro na vida, que é a liberdade da pessoa, portanto, tem que ser justo. Ele pode parecer duro nas decisões, mas se essa decisão justa foi dura, não temos outra possibilidade a não ser enfrentá-la. Aqui em Livramento, eu acho que sempre tentei ser justa. Não sei se consegui, mas toda a decisão que tomei sempre foi fazendo o melhor naquele caso, com a melhor prova e com consciência de estar tomando a decisão mais justa possível.

A Plateia: Como é pautar uma carreira tendo que atuar no limite entre a privação da liberdade ou o contrário?

Tânia da Rosa: Isso não é algo que me tire o sono, porque cada um de nós tem que cumprir um papel, e o papel do Judiciário é esse. Ao Judiciário não cabe elaborar leis, mas sim a execução, e dar a cada um o que é seu, de acordo com a Legislação que temos. Esse fato de andar ou atuar no fio da navalha, eu não vejo assim. Vejo como condutas praticadas por um ser que vive em sociedade e que tem que ter, desde que violada a ordem social, uma resposta. No meu caso, atuando há 14 anos, tem sido realmente entre a liberdade e a prisão, mas sempre que tomo essa decisão de manter preso ou colocar em liberdade, o faço de forma tranquila. Se o código de conduta foi violado, as pessoas têm que ter a responsabilidade.

A Plateia: Quais os casos mais marcantes de sua carreira?

Tânia da Rosa: Aqui foram vários casos, mas sempre que envolve crimes contra a família, com crianças, mulheres, são aqueles que mais marcam a vida da gente.

Durante aproximadamente uma hora, a Juíza Tânia da Rosa falou do seu orgulho de ter tido um filho que nasceu em Livramento e de ter casado na cidade. Nas suas palavras, o termo sorte foi repetido diversas vezes ao se referir ao fato de ter encontrado a cidade para trabalhar e viver boa parte de sua vida.

“Vou para outra cidade por uma opção e por entender que nesse momento preciso ficar perto do meu filho que vai estudar e prestar vestibular. Entendo que esse é o momento de deixar a cidade, mas certamente vou voltar para Livramento para visitar os amigos que deixo aqui e que sempre me foram tão parceiros e acolhedores, desde que cheguei nessa Fronteira tão querida”, finalizou a Juíza, que permaneceu na cidade por quase vinte anos.

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1 Comentário

  1. LUIS ALBERTO

    Colhemos o que plantamos! com certeza uma excelente pessoa! com suas baldas, mas quem não as tem? Sorte pra ti e que Deus te acompanhe SEMPRE!

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