Clóvis Santana, um artista sonhador e idealista

Há uns quinze anos ou mais, eu e Arlindo Coitinho fomos fazer uma visita a um amigo seu. Tratava-se do empresário e artista plástico Clóvis Santana que morava num sítio isolado, situado lá na Vila Santa Rosa. O Arlindo na verdade ia buscar o desenho da capa do seu livro O Habitante da Lua que havia encomendado ao Clóvis.

Era um domingo de tarde. E não sabíamos que precisávamos ter ligado antes, avisando, para que ele viesse abrir o portão. O Sítio do Clóvis ocupava uma quadra quadrada com cem metros de lado e era cercado por uma muralha. De modo que, ao chegarmos, golpeamos no enorme portão. Eram duas e meia da tarde. E eu me lembro que esperamos mais de meia hora, até que o próprio Clóvis veio abrir o portão.

– Não sabia que eram vocês. Recebi o aviso lá de cima, do meu vigilante, que havia alguém golpeando o portão. Eu lá de casa não ouço e os cães também não, porque estão presos lá do outro lado do sítio. Estão vendo aquele sujeito lá em cima?

De fato, olhamos para o alto do cerro do Registro e vimos alguém fazendo sinais.

– É ele que me avisa quando pessoas estranhas se aproximam do sítio. Está munido de um binóculo e de um transmissor.

A chácara ou sítio do Clóvis efetivamente ocupava uma quadra quadrada; por fora cercava-a uma muralha, em cuja parte superior pretendia construir uma passarela, e por dentro era revestida por uma cerca-viva de ciprestes. No canto direito do sítio, para quem se dirigisse ao portão de saída, havia uma fonte de água perene (a mesma água que há mais de cinqüenta anos jorrava dos canos do Cerro do Registro). O seu sítio era todo ele gramado e plano. No centro havia uma casa que ele habitava com a sua esposa e duas filhas. Ao redor dessa casa estava construindo outra, em forma de estrela. Cada ponta da estrela era uma dependência (quartos, cozinha, biblioteca e banheiros) e o centro era um grande salão onde pretendia receber seus convidados, fazer vernissages, expor seus quadros e de seus amigos.

O Clóvis possuía quatro cães que à noite deixava soltos. Além desses animais, criava coelhos e aves.

A cerca viva que contornava internamente o terreno possuía vários ninhos de passarinhos, todos eles construídos e identificados pelo Clóvis, sendo que cada passarinho tinha um nome. Outro atrativo do sítio eram as várias árvores frutíferas. Só de ameixas, havia umas seis espécies. Praticamente possuía quase todas as frutas tropicais, cujas plantas foram trazidas do seu habitat original e replantadas, com terra do lugar de origem e adubos especiais.

Tudo ali era realmente impressionante. Um cenário cinematográfico. O Clóvis estava importando lajotas do Uruguai, de Montevidéu, para revestir os passeios por entre o gramado do seu sítio.

Depois de nos receber e nos mostrar o seu belo sítio, gramado e aparado, com todas as suas maravilhas, inclusive algumas estátuas, fomos introduzidos em sua residência onde nos ofereceu alguns quitutes caseiros feitos por Dona Fafá, picadinho de leitão, torta de bolachinhas, sorvete, cerveja bem gelada, uísque e refrigerantes. De modo que ali permanecemos, com o Clovis nos mostrando seu trabalho e falando de seus projetos em andamento. Veio a noite e acabamos jantando com o Clóvis e sua simpática família.

O Clóvis fez entrega ao Arlindo do desenho da capa do livro (O Habitante da Lua) e afinal nos despedimos. Eram 22:30 hs.

Saímos dali satisfeitos, por ter passado uma agradável tarde de domingo.

Algum tempo depois, estando eu em minha casa, alguém veio me avisar que o Clóvis tinha falecido. O Clóvis era um jovem artista, sonhador, idealista e empreendedor, que ainda não completara 50 anos, um grande amigo e uma grande figura humana.

Luciano Machado

 

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