Tempo quente

É fato registrado pelo consciente coletivo que o clima, com todas as suas variantes, exerce uma influência muito significativo sobre o humor das pessoas. Por razões já reiteradamente explicadas, o excesso de uma ou outra temperatura acaba deixando o ser humano mais sério, fechado, soturno ou, ao contrário, acelerado, angustiado, desgastado e sem paciência. Assim como, igualmente, um clima agradável, temperado, equilibrado, sem grandes picos de temperatura baixa ou alta, dá às pessoas uma sensação de tranquilidade, de serenidade. Ou seja: os extremos é que podem provocar efeitos negativos no ser humano.

E talvez seja mesmo esse o efeito que as altas temperaturas têm provocado em alguns homens, que perdem o controle a ponto de atacar com violência física suas esposas, companheiras, namoradas, enfim. Os últimos têm sido destaque em termos de ocorrências criminais relacionadas com a agressão intra-familiar e, obviamente, a aplicação da Lei Maria da Penha, que é o instrumento atualmente mais eficaz para a repressão à violência contra a mulher. Somente na última sexta-feira, por exemplo, seis casos foram registrados na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento-DPPA e entraram para o já volumoso número de processos a ser resolvidos pela Polícia Criminal. Não há como julgar o mérito desse tipo de crime – é crime pela simples razão de ser uma agressão física. Os motivos pouca importância têm nesse contexto.

Talvez seja apenas por conta do desgaste emocional provocado pelo excesso de calor. Ou um desentendimento amoroso. Ou bebida. Ou falta de dinheiro causado pela falta da dignidade de um salário, enfim. Óbvio que a Polícia vai ter que investigar, apurar, fazer diligências, ouvir depoimentos, montar um inquérito completo para embasar uma ação da Justiça… Isso, paralelamente ao trabalho de investigação de um incrível e crescente número de casos de furto, roubo, assaltos, golpes dos mais variados tipos, homicídios… Da mesma forma, os agentes responsáveis pelo policiamento ostensivo, preventivo, que têm o dever de intervir quando solicitados para proteger as vítimas de violência doméstica, precisam se dividir entre essa obrigação funcional e o combate a outros tipos de crime praticados de forma racional por criminosos que têm – esses, principalmente – que ser enfrentados.

E, no meio de tudo isso, a possibilidade muitas vezes rotineira de que a vítima, pelas mais diferentes razões, opte por “dar uma nova chance” ao agressor. Ainda que um dos mais eficientes e eficazes instrumentos de combate à violência intra-familiar já criados no Brasil, a Lei Maria da Penha não resolve totalmente os problemas sociais que normalmente são a causa dessa violência. E que parecem emergir do subconsciente de algumas pessoas na esteira do stress que eventualmente é efeito do excesso de calor destes dias quentes.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.