“O risco de uma crise global similar à que aconteceu em setembro de 2008 é real”. Justin Yifu Lin, economista-chefe do banco Mundial

CAUTELA PARA ESTE ANO

Mesmo com todo o otimismo demonstrado pelos brasileiros para enfrentar o ano que recém começou, um pouco de cautela com os gastos não seria demais para quem se programou para grandes despesas em 2012.

O endividamento dos brasileiros, projetado pela Consultoria Tendências, poderá chegar a 51% de toda a renda salarial dos trabalhadores estimada em R$ 1, 1 trilhão. Logo, a família brasileira estará devendo aos seus credores algo em torno de R$ 550 bilhões, ou 35% do PIB

O percentual do endividamento nacional está sob controle, considerando-se situações similares em outros países. Nos EUA, o comprometimento da renda familiar chega a 60% do PIB. Na França, na Alemanha e no Reino Unido a situação não é diferente no endividamento de suas famílias. Todas devem mais que as famílias brasileiras.

Mas onde estão, então, a preocupação e a cautela exigidas? Nos juros cobrados dos brasileiros, os mais altos do mundo. Enquanto o cidadão devedor nos EUA paga juros de 2% ao ano, o brasileiro paga, no mínimo, o dobro do juro anual norte-americano, 4% ao mês quando consegue um empréstimo mui amigo no seu banco.

Em outras modalidades de crédito, o brasileiro é espoliado impiedosamente. No seu crédito pessoal no comércio, o juro mensal é de 4,5%. Se for para o cheque especial a taxa vai até 8% ao mês. E se cair na desgraça de refinanciar a dívida do cartão de crédito os juros mensais chegarão a 12%.

Tais juros aplicados no consumidor brasileiro chegam ao ponto de uma dívida se tornar irresgatável e é por isso mesmo que a inadimplência vem subindo gradativamente ano a ano. Em 2010, ela foi a 5,7% do total de crédito concedido. No ano passado, para 7,3%.

O governo brasileiro deu a receita certa para ficarmos o mais distante possível da crise que já assola a Europa: manter um alto nível de consumo interno, com a devida cautela para o brasileiro não se endividar demais.

Mas com a receita, o governo deveria também colaborar diminuindo as diversas taxas de juros do sistema financeiro nacional, as quais de tão perversas são obscenas. O brasileiro nunca foi um mau pagador de suas dívidas, no entanto, às vezes, ele não consegue pagá-las por que sequer pode meter a mão bolso para tirar o dinheiro.

Elas estão erguidas, em forma de “mãos ao alto” sob a mira indecente dos banqueiros e dos cartões de crédito.

OS JUROS ANUAIS (1)

O grande vilão do endividamento dos brasileiros é o cartão de crédito. A facilidade com que um cartão de crédito é concedido ilude o consumidor brasileiro ainda desacostumado ao uso parcimonioso do mesmo. Não quitá-lo no fim do mês é como cavar um buraco que será muito difícil de ser fechado pelos juros cobrados. Num ano, uma dívida de R$ 1 mil atinge a R$ 2.370,00.

OS JUROS ANUAIS (2)

Dois exemplos dos juros anuais cobrados pelos cartões de crédito na Argentina e na Colômbia, dois países com situação econômica bem mais difícil que a do Brasil. Na Argentina: 50% ao ano. Na Colômbia: 28% ao ano. No Brasil: 237% ao ano.

A SAÍDA (1)

O governo brasileiro se aumentar seus gastos pode até incrementar a economia, mas ele já está gastando demais com salários e obras superfaturadas. A iniciativa privada tem como meta aumentar a produtividade através de mais eficiência e a colaboração oficial seria mais austeridade naquilo que pode ser reduzido. Menos ministérios, por exemplo.

A SAÍDA (2)

Sem as duas medidas básicas – menos gastos, logo menos juros para cobrir a dívida mobiliária interna, e mais produtividade – o brasileiro médio não vai aumentar o seu padrão de consumo (e de vida), restringido pelas dívidas acumuladas. E a conseqüência será um mercado interno aquém do que a economia nacional pode atender.

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