Caminho árido

Já acostumados a assistir com pesar ao castigo da seca no Nordeste, situação que inclusive virou tema de obras literárias, filmes e até mesmo novelas de televisão – sem falar, óbvio, nos muitos e muitos projetos elaborados por políticos e que retiraram milhões e mais milhões dos Cofres Públicos como meio para a solução – os gaúchos espantaram-se nas últimas semanas com as imagens fortes de terra rachada e plantações perdidas no “celeiro” do país. De clima temperado, com quatro estações bem definidas, a região Sul sempre se gabou de seu potencial agrícola, explorado por grandes ou pequenos proprietários, individualmente ou reunidos em cooperativas. Contudo, as mudanças climáticas das últimas décadas têm provocado efeitos extremos na produção de uma extensa área. As tempestades de inverno aumentaram sua força, a estiagem de verão está cada vez mais prolongada e não há o menor indício de que o tempo será piedoso com os agricultores nos anos que virão. Calcula-se que a seca atual já tenha provocado um prejuízo de R$ 2,2 bilhões. As perdas da safra podem ser ainda maiores se não chover neste mês – e as previsões não são nada boas, conforme demonstra matéria publicada na página 9 desta edição. As adversidades do clima não são exatamente uma novidade para os gaúchos nem para os fronteiriços. Plantações castigadas pelo excesso de chuva ou pela estiagem existem desde que a região começou a ser colonizada. Soluções antigas, como a irrigação e a diversificação do cultivo, continuam eficientes quando se busca reduzir o impacto das mudanças climáticas nos estados afetados pela seca. Se o clima no Sul não é o melhor para a agricultura, a região possui um solo rico, que em tese deveria proporcionar um equilíbrio no custo de produção, já que se gasta menos com fertilizantes. Mas é preciso irrigar para que a produção fique estável. A irrigação, porém, é ainda uma realidade distante para a maior parte dos produtores. De acordo com um levantamento da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER/RS), dos 430 mil estabelecimentos agrícolas gaúchos, apenas 27 mil usam algum tipo de irrigação. O Rio Grande possui 6 milhões de hectares em plantações de grãos. Deste total, apenas 1,2 milhão é irrigado, sendo 1,1 milhão de hectares ocupados com lavouras de arroz, que usam o método de irrigação de inundação. É possível aumentar a área irrigada em 200 mil hectares nos próximos anos. Se muito dinheiro for investido em infra-estrutura, essa área pode se ampliar para um milhão de hectares, calculam os especialistas da área. Enquanto isso não se concretiza, os produtores fronteiriços e gaúchos terão que continuar nesse árduo – e árido – caminho.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.