O mesmo umbigo

Estão corretos os segmentos comunitários, tanto de Livramento quanto de Rivera, que questionam a disparidade nos critérios condicionantes para liberação de uso do Parque Internacional e de outras tantas áreas públicas comuns às duas cidades-gêmeas, uma vez que possíveis descaracterizações são prejudiciais aos interesses de ambas as comunidades, principalmente em termos turísticos. Não que isto represente uma reprimenda, por exemplo, à instalação da “feira das nações”, que integra a programação de mais uma edição da já tradicional Semana de Rivera. Ao contrário: trata-se de um evento que agrega valor importante à oferta turística da fronteira e que há tempos a população reivindicava voltasse a ocupar espaço na área nobre – durante longo período, a programação esteve deslocada do centro, instalada com todas as suas atrações em espaço contíguo ao estádio Atílio Paiva. Mas se é justo reconhecer e valorizar a iniciativa da Intendência de promover a Feira das Nações, é correto também entender a preocupação da sociedade em relação a seu belo cartão postal.

Apenas recentemente a fronteira conseguiu avançar de modo significativo e eficaz na luta pela recuperação da praça Flores da Cuha, e assim mesmo foi uma conquista ainda marcada por expectativas. Saíram as bancas de camelôs, mas a praça continua sem condições de uso pela população, o que se espera seja possível bastante breve. À parte, essa conquista foi resultado em grande parcela pelas públicas, reiteradas e objetivas manifestações e ações dos setores comunitários conscientes da importância da participação cidadã na orientação das decisões político-administrativas. A questão dos critérios para liberação do uso do Parque Internacional e outros logradouros também se enquadra nesse diapasão. Não é de hoje que são questionados tais critérios.

Pequenas alterações no pavimento dos passeios cuidadosamente confeccionados em “petit pavê”, tufos de grama arrancados ou pisoteados, enfim, embora aparentemente problemas considerados irrelevantes e facilmente corrigíveis, como pequeno custo de eventos de grande porte, na verdade podem simbolizar um total descaso da sociedade para com sua história e seu patrimônio cultural. No caso do Parque Internacional, especialmente, descaso para com a história e o patrimônio de duas comunidades, de Livramento e de Rivera. Ou, então, de um único povo, uma única sociedade entrelaçada cultural, histórica, política, religiosa, emocionalmente, enfim. Porque aqui é assim. A população da fronteira tem que voltar seus olhos para seu próprio umbigo, avaliar o que quer para seu futuro e definir o que fazer, em conjunto, através da soma de esforços pessoais, para o amadurecimento e o crescimento coletivo.

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