Entre Chico e Adhemar

O ser humano é mutável. Assim estabelecem alguns conceitos científicos. A vida é mutável, as coisas, os estados de coisas. Mas existem alguns elementos que não se modificam. Passam, pois nada se perpetua, nem mesmo a memória (partindo-se do princípio de que as pessoas esquecem de pessoas e situações). Na política também é assim. O único fator imutável é a desonestidade, a corrupção, a ilegalidade, o ilícito. É como se tenebrosas transações continuassem a ocorrer, só para lembrar um dos trechos do excelente compositor brasileiro Chico Buarque, na música Vai Passar. A vida, entretanto, é boa, loucura gentil da senilidade democrática, em pese a nefasta presença pública dos Carlos Lupis da vida, cuja retórica enganosa e profana incapacidade passam um atestado de incompetência para a essência do processo político. Há quem diga que política é uma só, não é nem boa, nem má. É política. Maquiavel – por muitos pessimamente interpretado como a pura expressão do Mal – em seu O Príncipe já estabelecia a realidade tal qual ela é, ou seja, tal qual as pessoas querem que ela seja.

Na mutabilidade do cotidiano, o que permanece também é a vontade de mudar, de eliminar o nefasto, corruptos e corruptores; desde publicitários carecas que hoje, de cabelos implantados, finalmente são vistos algemados até o histórico rouba mas faz.

Vai passar.

Nem que leve décadas, a evolução da liberdade (Chico, de novo) até o dia clarear.

A história brasileira conta, por exemplo, a biografia de Adhemar de Barros, na São Paulo dos anos 30 a 60 e no Brasil daquele então, tamanha a influência que tinha esse extinto político. Rouba, mas faz, é uma expressão ouvida até hoje quando o tema é Adhemar de Barros, que realizou inúmeras obras e, em determinado momento, póstumo inclusive, acabou sendo alvo de escândalos, até com um cofre cheio de dólares.

Ao fim, percebe-se que a corrupção é mais antiga do que se possa supor.

Mas, em verdade, é preciso por um fim nela. E isso, essencialmente, é mudar. Transformar a realidade.

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