As lições da Europa e o Brasil

Os trabalhadores portugueses vão parar hoje, 24 de novembro. Organizada pelas centrais sindicais, a greve geral é um novo protesto contra a crise e o governo. Não devemos nós olhar com maior cuidado o que ocorre na Europa e pode acontecer aqui?

Itamar, meu irmão mais moço, está em Lisboa há quase trinta anos e me envia um resumo dos atuais males e dificuldades do país:

- a crítica maior ao atual governo é a constatação de que ele seria mais “troikista” que a própria “troika”, quer dizer, está indo além do que foi acordado, em termos de redução de despesa e também de benefícios e salários.
- a “troika” (assim chamado em Portugal o grupo de socorro aos países em crise, Banco Central Europeu, FMI e Comissão Européia) elogiou, semana passada, o trabalho do governo e liberou novos recursos de ajuda. 
- a crise tem levado muitos jovens a emigrar, e agora homens e mulheres de 40/50 anos começam a deixar Portugal, preferencialmente para Suíça, França e Angola.
- também os cérebros do País procuram emprego no exterior, onde há melhores condições de trabalho e melhores salários;
- os bancos reduzem e recusam empréstimos a pequenas e médias empresas, o que as coloca em risco e daí que se prevê, para o próximo ano, um aumento na taxa de desemprego, hoje de 12,5%.
- são os mesmos bancos que, com juros favoráveis, haverão de se apropriar da maior parte do dinheiro que a “troika” aprovou.
- continuam os cortes nos salários dos funcionários públicos que, nos próximos dois anos, não terão subsídios de férias e  gratificações natalinas.
- 2012 deve ser um ano ainda mais difícil, só para 2013 é que se prevê uma lenta retomada da economia.

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e presença habitual nos fóruns de esquerda no Brasil, produziu esta semana um comentário bastante amargo sobre as “lições da Europa”.

Entre estas, uma advertência: “a democracia pode desaparecer gradualmente e sem ser por golpe de Estado. Vários países da Europa vivem uma situação de suspensão constitucional, um novo tipo de Estado de exceção que não visa perigosos terroristas, mas, sim, os cidadãos comuns, os seus salários e as suas pensões”.

Antes da conclusão, Boaventura critica a direita e a esquerda por um quadro tão perigoso: a direita porque usou a crise para aplicar a “doutrina de choque” das privatizações e da destruição do Estado social, e a esquerda por não ter tido capacidade de propor uma alternativa a esse “senso comum” neoliberal.

Só nos resta esperar que, no Brasil, saibamos identificar os pontos convergentes das causas dessa realidade européia. E que sejam  corrigidas, a começar por reformas essenciais, como a política e a previdenciária.

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