Oportunidade

Ainda que totalmente justa e, quiçá, a última alternativa restante à classe do magistério gaúcho para exigir o cumprimento da lei federal que estabelece o Piso Nacional de Salário para a categoria, a greve estadual conflagrada na prática a partir de hoje talvez não se revista do mesmo sucesso de edições anteriores por uma única razão: o senso de oportunidade. Ou a falta dele. Paralisar as atividades da rede estadual faltando menos de 30 dias para a conclusão do ano letivo repercutiu muito negativamente no seio da sociedade – e não exatamente por causa da consciência quanto ao direito dos estudantes de receberem aulas regularmente, o que sempre acaba levando o foco dos usuários para onde tem que se posicionar: no Governo, responsável pela gestão da educação.

Da forma como foi encaminhada a discussão no final do período letivo, nem mesmo parte da categoria parece satisfeita em paralisar. A expectativa de adesão, inclusive, não é das mais altas, apesar do que falam os líderes do Cpers/Sindicato. E, caso realmente não se confirme a estimativa do comando de greve já nos primeiros momentos, restará evidente o esvaziamento de uma pressão que tem tudo para ser efetiva sobre o Governo. Afinal de contas, o motivo é totalmente justo, tem fundamentação na lei, é um direito conquistado e plenamente merecido. Em outras palavras, nenhum cidadão gaúcho, sem sombra de dúvidas, poderá questionar a necessidade desse movimento uma vez que o Governo do Estado sabidamente não tem como cumprir com a obrigação legal. Até mesmo o próprio Governo do Estado reconhece a justiça da greve. O problema, então, é bem outro: o momento em que a greve é deflagrada. O magistério, parando agora, a poucos dias do fechamento do ano, perde mais do que ganha. Talvez, se o movimento conseguir sobreviver a um período mais longo, a população se volte então contra o Governo e passe a exigir que ele tire dinheiro sabe-se lá de onde e contemple o magistério com aquilo que já é um direito da categoria. Mas, se a paralisação não resistir à pressão social, os professores terão que se resignar a esperar que o Governo, mais adiante, cumpra com o que já deveria estar pagando.

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