A rotina dos ministros que caem

“Eu sou osso duro de roer.”

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, falou grosso na terça-feira, ao refutar as denúncias da revista Veja sobre irregularidades em seu Ministério.

Disse mais: não é gaúcho, mas adora uma peleia.

E exagerou, a meu juízo, ao duvidar que a presidente da República o demita.

Estou curioso, a partir dessas afirmações, sobre o futuro de Carlos Lupi. Ele é um político manhoso, “aprendiz” de Leonel Brizola, de quem herdou o partido. Não é unanimidade no PDT, portanto não tem a absoluta solidariedade de seus partidários, como aconteceu com Orlando Silva e o PCdoB. Diz-se que a presidente Dilma Roussef não morre de amores por ele. E uma parcela, pelo menos, da família de Brizola, tem restrições ao ministro.

Nos meios políticos, apostava-se em sua substituição na anunciada reforma ministerial do final deste ano, início do próximo.

Foi aberto um processo preliminar pela Comissão de Ética do governo, para apuração das denúncias e Carlos Lupi tem agora dez dias para se explicar. Sobre a reunião do ministro com a presidente da República, pouco se sabe.

Dilma, aliás, vai se desvencilhando, um a um, dos nomes indicados para o ministério pelo ex-presidente Lula. E tem feito isso de uma forma muito pessoal.

Orlando Silva despediu-se do Ministério do Esporte com um discurso forte, protestando inocência. Foi aplaudido de pé e a presidente fez-lhe rasgados elogios, ao dizer que a atuação do ministro foi “excepcional”. Ora, se tudo é mesmo assim, por que o ministro deixou o cargo?

As demissões ocorridas até agora seguem estranho ritual: começa com uma denúncia feita pela imprensa; o ministro nega as acusações, pede que a Polícia Federal apure os fatos “com rigor”; demite algum funcionário de menor prestígio, e o Planalto assegura-lhe alguns dias de sobrevivência. Mas, depois do período de purgação, renuncia ao cargo, para dedicar-se à sua defesa e é aplaudido ao transmitir o ministério a seu sucessor. E a presidente agradece o trabalho por ele realizado.

É o que vai acontecer também com Carlos Lupi?

Só saberemos isso dentro de alguns dias, depois de suas explicações à Comissão de Ética, ou até a próxima edição de uma revista ou de um jornal com novas revelações.

Por enquanto, ele é um “osso duro de roer”.

Sobre a vida e a história dos ministros já demitidos no atual governo, ocorre um estranho silêncio. Cada um deles parece submergir num oceano de obscuridade depois de deixar o governo.

O que é feito de Antonio Palocci, poderoso Chefe da Casa Civil do início do Governo? Ao que se sabe, não forneceu qualquer explicação sobre o fato de ter aumentado vinte vezes o seu patrimônio pessoal, como “consultor de empresas” enquanto era deputado federal.

E assim segue a vida, a nossa e a deles.

Ninguém explica nada. Grassa a impunidade absoluta, talvez o maior de todos os males do país.

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