Minha Feira cinquentenária

Tenho uma relação amistosa com a Feira do Livro de Porto Alegre. Mais que isso: devo-lhe um momento importante da minha vida profissional.

Acompanho-a há exatos cinquenta anos, ela que está em sua 57ª edição. Nasceu por iniciativa do vereador e jornalista Say Marques, do velho e bom Diário de Notícias.

Começou tímida, algumas poucas barracas de livreiros, ocupava apenas o núcleo central da Praça da Alfândega. Era um tempo em que os carros andavam ao redor da Praça, havia estacionamento oblíquo na rua da Praia, em frente aos Cinemas Guarani e Imperial. Ali também se situava o Café Matheus e era onde se encontravam os jornalistas, depois da jornada diária que só chegava ao fim no início da madrugada.

No Matheus, comia-se uma espécie de bauru ou sanduíche com fatias de pernil suíno. Simplesmente irresistível. Servia como complemento de refeição e, muitas vezes, era o próprio jantar.

Dali partia-se quase sempre para uma ronda boêmia. Bem perto, havia bares, restaurantes, cabarés. Célebres foram a boate Maipú e o restaurante Treviso, no Mercado Publico. A canja de galinha do Treviso era o prato de sustentação no final da noite.

Não havia os temores de hoje. Caminhava-se com despreocupação no centro da cidade. As mulheres, com vestidos curtos, desfilavam por lá o seu charme, em especial nos fins de tarde. O Largo dos Medeiros era ponto de encontro dos homens. Formavam pequenos grupos para um bate-papo ou para contemplar a beleza das moças.

A Feira do Livro, com o passar do tempo, foi tomando corpo, acrescida de novos componentes e espaços, entre eles uma grande área destinada ao público infanto-juvenil, junto ao cais do porto. Dali, hoje, tem-se uma magnífica visão do Guaíba, pequena prévia do que há de ser um dia o cais e sua revitalização: o tão sonhado e sempre protelado “Puerto Madero” de Porto Alegre.

A Feira tornou-se referência cultural da cidade e os porto-alegrenses e os gaúchos, de sua parte, têm carinho por ela. Sim, sempre há os saudosos dos velhos tempos, reclamando de um lugar adequado para a conversa descom-promissada.

Encontrei lá, nesta semana, o presidente da Câmara Rio-grandense do Livro, João Carneiro, otimista com os números que devem mostrar um crescimento de presença e de vendas em relação ao ano passado. Isso é bom. Para a cultura e para nós todos.

Meu reconhecimento à Feira vem do primeiro ano que a visitei. Foi em 1961. Havia, à época, um concurso de reportagens patrocinado pela ARI e a Câmara Rio-grandense do Livro. E o meu texto foi o vencedor.

O prêmio era de 15.000 cruzeiros, e fui “intimado” pelo pessoal da redação do Diário a pagar o chope daquela noite. Lá se foram 12.500 do prêmio.

Mas a gratificação daquela primeira conquista ficou-me inesquecível.

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