O céu nublado de Brasília

O céu está nublado em Brasília, nesta manhã de quarta-feira, 26 de outubro. Há algumas nuvens pesadas, pode chover.

Também sobre a Esplanada dos Ministérios há sombras escuras. Até o final desta crônica, ou até o fim do dia, é provável que o sr. Orlando Silva já não seja mais ministro dos Esportes.

A manchete do Correio Braziliense, o jornal mais importante da capital da República, está em letras brancas sobre uma enorme barra com fundo negro: STF deixa ministro por um fio.

Houve uma reunião a portas fechadas no Palácio do Planalto ontem à tarde, depois que a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, determinou a abertura de inquérito para que a Procuradoria-Geral da República investigue as denúncias de desvio de dinheiro do Programa Segundo Tempo. E a conclusão não poderia ser outra: Orlando Silva está insustentável, alguém do PCdoB vai para o seu lugar, porque vem aí um ano eleitoral e não se pode perder parceiros.

Ontem, ao meio-dia, depois que a Folha de São Paulo trouxe novas informações sobre irregularidades no Ministério dos Esportes, não havia dúvida nos meios jornalísticos sobre a queda iminente do ministro.

Conforme a Folha, Orlando Silva autorizou de próprio punho uma redução da contrapartida exigida de uma ONG do policial João Dias Ferreira, hoje o seu delator.

O convênio foi assinado mesmo já estando o policialsobsuspeita de irregularidades em outra ONG por ele comandada.

Sombras escuras também cobrem o palácio do governo do Distrito Federal. O atual governador Agnelo Queiroz, ministro dos Esportes no primeiro governo de Lula (2003 a 2006), está sendo citado como beneficiário de um esquema de desvio de dinheiro público.

Ele apareceu hoje na televisão para afirmar que concorda inteiramente com as investigações que estão sendo feitas, e que ele mesmo as pediu. Mas seu constrangimento é visível.

Esse clima todo não é novo em se tratando da capital da República. Desde a sua construção, comandada por Juscelino, há suspeitas e quase certezas de processos corruptos e corruptores.

Basta andar pelo entorno do lago de Brasília e lá vão ser encontradas faraônicas mansões de propriedade de funcionários públicos, com rendimentos incompatíveis com esse status. São exceções, certamente. A grande massa de trabalhadores públicos ganha parcos salários. E são honestos.

Sempre fui um otimista. Mas o certo é que, nos últimostempos, tenho dificuldades em acreditar que a minha geração vá conhecer um novo tempo, de maior responsabilidade dos homens públicos e maior seriedade no trato das questões de governo.

Hoje, mais do que nunca, em Brasília, sente-se desesperança. Há um clima pesado no ar e mais um ministro em fase terminal.

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