Tecnologia

Há vários aspectos pertinentes ao trânsito. Um deles é o hábito – poderia se dizer vício – de alguns motoristas de falar pelo celular enquanto dirigem. É risco.Uma realidade muito mais grave do que se supõe, e tem o mérito de chamar a atenção para um hábito mortal que ainda é considerado inofensivo por grande parte dos motoristas.
A presença dos aparelhos eletrônicos em praticamente todos os momentos da vida e a familiaridade das pessoas com a tecnologia, conduz a muitos equívocos. Um dos mais difundidos é a ideia de que os seres humanos (em especial os mais jovens, que já nasceram na era da internet) desenvolveram a capacidade de fazer “várias coisas” ao mesmo tempo. São comuns pessoas que se vangloriam de dar conta de múltiplas tarefas simultâneas, e existe até mesmo uma crença generalizada de que as mulheres teriam uma habilidade “multitarefa” natural que os homens não têm.
Nada disso é verdade. Estudos neurocientíficos comprovaram que o cérebro humano não desenvolveu nenhuma capacidade motora ou cognitiva avançada, no que diz respeito a essa capacidade, em função de práticas ou estímulos tecnológicos, como os computadores, os videogames e a internet. Conforme um experimento da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, os chamados multitaskers (pessoas que veem TV, estudam para a prova, navegam na internet, trocam mensagens de texto, conversam pelo celular e ouvem música ao mesmo tempo – os popularmente chamados multitarefas simultâneas, no Brasil) geralmente fazem tudo malfeito.
Multitaskers crônicos têm dificuldade para se concentrar em um único assunto (por isso, ficam exaustos quanto precisam participar de uma reunião longa ou discutir um tema em profundidade). Além disso, sua atenção é desviada com mais frequência por interferências e informações irrelevantes ao contexto daquilo que precisam fazer.
O cérebro, na verdade, consegue manter a atenção em dois assuntos – e apenas dois – simultaneamente, repartindo-se e dividindo as tarefas entre os hemisférios esquerdo e direito. Um experimento que se tornou referência mundial, realizado na França pelos neurocientistas Sylvain Charron e Etienne Koechlin, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica, demonstrou que os lobos frontais direito e esquerdo se alternam para cuidar de assuntos diferentes. Mas, importante: uma das metades sempre fica “em espera” enquanto a outra trabalha.
Aplicadas no trânsito, essas constatações científicas levam a uma conclusão óbvia: pessoas que falam ao celular, leem ou escrevem mensagens de texto enquanto dirigem, são muito mais suscetíveis de causar acidentes do que aquelas que se concentram apenas em dirigir. Dirigir um veículo no atual estágio da evolução humana e tecnológica é algo que continua a exigir total concentração. Enquanto o cérebro do homo sapiens não progredir naturalmente para a versão 2.0 – o que pode levar ainda algumas dezenas de milhares de anos – o melhor a fazer ao ligar o carro, é desligar o celular.

 

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