A última guerra

A II Grande Guerra Mundial levou à morte entre 52 e 56 milhões de pessoas, das quais aproximadamente 67% eram civis. O assassínio de judeus e povos eslavos como poloneses, russos e sérvios – além de ciganos, Testemunhas de Jeová e homossexuais, entre outros cuja etnia, crença ou condição humana não se ajustava ao ideal nazista – só foi estancada no momento em que a máquina bélica nazista de Hitler foi esmagada pelo avanço dos russos, ao leste, e de uma coalizão formada por diversos países ocidentais, que iniciaram a retomada da Europa a partir da Normandia, na França.
Atualmente, as imagens daqueles dias sombrios não são mais do que fragmentos de um pesadelo distante. À luz da liberdade e da democracia que ostentam a maior parte dos países ocidentais, parece impossível que Hitler, Mussolini e os simpatizantes do nazifascismo tiveram, de fato – ainda que por breves instantes – a chance de impor ao mundo suas filosofias doentias. O fato é que o futuro da humanidade esteve em jogo durante seis longos anos, e não fosse uma série de fatores – a resistência dos ingleses debaixo de milhares de toneladas de bombas; a traição de Hitler contra Stálin e o erro monumental do líder nazista de invadir a União Soviética; a formação de uma ampla coalizão entre países de todo o mundo, entre eles duas das maiores potências mundiais (Estados Unidos e União Soviética), para combater o nazifascismo – o mundo ou boa parte dele poderia ser hoje um ambiente bem mais aterrador, opressivo e desumano do que se pode imaginar.
Apenas a curta duração da vida humana, que só recentemente ultrapassou a casa dos 70 anos, pode explicar que um episódio tão crucial para a vida da humanidade, bem como a memória daqueles que o viveram como bandidos ou heróis, possa deslizar lentamente para o esquecimento. Em Livramento há um monumento aos expedicionários na praça General Osório, aos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), já há alguns anos deixou de receber flores no dia 8 de maio — o Dia da Vitória dos Aliados na Europa.
Acontece que alguém quebrou o capacete e a coronha do fuzil que ali estavam. Talvez até por zelo, já tenham sido colocados outro capacete e outra coronha no local.
Mas é o ato que preocupa.
Quebrar por quebrar. Como fazem com os bancos do Parque Internacional. Fazer por fazer. Como destroem luminárias, lâmpadas, paradas de ônibus, enfim…
O tempo não diminui o sacrifício dos que lutaram por um mundo livre — mas, à medida em que diminuem os sobreviventes daqueles tempos loucos, os beneficiários da liberdade por eles defendida perdem a capacidade de perceber a real dimensão de tudo o que eles fizeram. Ninguém, a não ser quem já foi à guerra, pode imaginar o que seja deixar para trás a família, os amigos, a namorada, o país em que se cresceu e os sonhos todos da juventude para lutar em uma terra estranha, contra um inimigo raivoso. A memória da vitória aliada, em que se insere a história dos pracinhas brasileiros, deveria ser cultivada não como um episódio distante, mas como algo presente na vida de cada pessoa que vive e respira a liberdade. É uma dívida de sangue que nem o tempo, nem a morte apagarão.
Isso é fato e precisa ser propagado na cultura santanense, da mesma forma que outro elemento cultural, o da destruição e o desrespeito, do vandalismo e da irresponsabilidade precisam ser extirpados.
Essa é uma nova guerra. Talvez maior que a II GGM. Precisa ser travada por todos os cidadãos de bem, zelando, cuidando e denunciando. Exercendo a cidadania a pleno.
Quando isso ocorre, evoluirá a cultura e a sociedade local.
Aí, definitivamente, a cobra vai fumar!

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