Se essa rua, se essa rua fosse minha

Como se formam os movimentos sociais? Quem diz que uma praça ou concentração de pessoas será parte integrante de uma história a ponto de mover vidas? De quem é o direito de mudar cenários sociais, alegando o bem comum e direito alheios? Livramento foi cenário de algo assim, uma história que nasceu nos anos 20 e foi apropriada por discursos políticos e interesses ainda incompreensíveis.
Uma praça é um bem de domínio público, isto é fato. Ocorre que com o tempo, uma praça pode ser usada momentaneamente por um cidadão ou outro para um fim que não seja apenas o passeio. Quem passa por uma praça pode, de repente, oferecer produtos, bugigangas, instalar uma ou outra barraquinha de cachorro-quente, mas quando isso passa a ser uma ocupação, o cenário de praça desaparece.
O que diferencia uma praça com barraquinhas, vendedores ambulantes de pessoas que fazem dum logradouro público um local privado de comércio? A pergunta é a própria resposta. Muitos camelôs que tinham o seu comércio na Praça dos Cachor, fizeram dela um espaço privado. Um cenário histórico e público perdeu sua identidade para cidadãos que se apossaram dela, mesmo que inconscientemente.
A praça dos sonhos passou então a ser a praça da discórdia. Por anos, o local passou a ser tema de debates, promessas políticas até o ponto que chegou a ser objeto de ação judicial. Com uma decisão já exaurida de tentativas, acordos e promessas, uma juíza, cidadã, tomou a decisão que feriu muitos. A praça deveria ser desocupada. O grande debate em meio a essa decisão, é que não se está defendendo ou perseguindo uma classe de trabalhadores, mas procurando uma forma em que toda a comunidade desfrute igualmente de um bem público, de sua história, beleza e conservando um marco no nascimento de uma cidade.
Para muitos, esse é um debate de vários contextos e pontos de vista: sociólogos, historiadores, advogados, juízes, trabalhadores, cidadãos, pessoas sem opinião, turistas, cada um terá sua opinião e só um grande debate aberto e contínuo fará com que cada lado entenda o outro. O que aconteceu foi a execução da força de uma Lei e de pessoas determinadas em suas ações. Se a Juíza que decidiu no processo não tivesse agido e tomado uma decisão forte, e demais órgãos julgadores não tivessem corroborado, talvez o cenário na praça dos sonhos ainda seria o mesmo.
Pessoas, transeuntes pacatos passariam pelos camelôs e não fariam um julgamento sequer, políticos seguiriam em banho-maria e a sociedade viveria acostumada com uma realidade imposta. O que aconteceu neste início de semana, em Livramento, mostra muito mais que uma decisão judicial, um cumprimento de ordem ou cenário de debates políticos. A realidade mostra que quando se quer, se faz; que, quando se manda de verdade, se cumpre.
A praça dos sonhos foi apenas uma demonstração de que poder público pode fazer muito mais do que promessas, e diversas outras situações podem ser alteradas em benefício da comunidade. A sociedade precisa apenas acordar, fazer, determinar, cumprir e sonhar. Livramento precisa sonhar com mais hospitais, escolas, teatros, belas ruas, bairros mais cuidados, sonhar que qualquer coisa pode acontecer.

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