Lamento

O ser humano, por definição e conceito, pela imperfeição e incompreensibilidade retém, em si próprio um outro universo ou uma série deles, completamente inacessível para outrem. Menor ou maior do que o de matéria, conhecido ou pelo menos admitido pela Ciência. Tamanha é a complexidade que este outro universo, incrivelmente poderoso e misterioso, detém que a falta de capacidade para mensurá-la também é indicativo lapidar, mas bem trabalhado mesmo, de que o não conhecimento e o desconhecimento (o consentido e o inconsciente) revelam nuances que fazem com que os próprios semelhantes imaginem (mas só imaginem) que já viram de tudo quando ocorrem situações como a que fez de fatal vítima o menino Bernardo.
Não cabe aqui fazer juízos. As justiças, a terrena – dos preceitos legais e na ordem do Estado Democrático de Direito – e a outra – que pode ser definida conforme a crença e a convicção de cada um dos cidadãos que lê esta linha – darão conta daqueles que covardemente tomaram para si a incumbência de abreviar uma vida.
Parece tão simples. Raia à banalidade. O inacreditável se pauta pela incrível profusão de um desinteresse na atribuição do valor, ético, moral e humano (humano? Palavra bonita, conceito escasso).
Em havendo a confirmação das suspeitas sobre o cruel desfecho do caso Bernardo, há muito o que buscar entender.
Que pai tergiversa, esconde, omite ou concorda com a morte de um filho?
Que mulher, com seu senso maternal imperativo e esperável, executa?
Ontem, no programa Canal Livre, a promotora Dinamárcia Oliveira, santanense, competente, transmitiu, durante a entrevista a Henrique Bachio, o que só é possível ler nas entrelinhas. Sua decepção com o ser humano. Certamente, obtém a concordância de muitos, inclusive quem sequer detém o interesse em pesquisar antes de opinar e fica buscando comentar, nas redes sociais, o que não precisa de comentário.
Ninguém imaginaria que ocorreu o que, de fato, aconteceu! 
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, cujo laudo atesta que a morte ocorreu no dia 4 de abril de forma violenta.
Como assim? Violenta? Óbvio que assim seria, presumivelmente.
Chora a própria compreensão do que se convencionou chamar humanidade, não a raça, o gênero, mas a essencial contradição do ser. John Locke, em uma de suas abordagens via o ser humano como bom por definição, diante de um estado natural com perfeita liberdade para ordenar suas ações em consonância com as leis da natureza, independente da permissão de outrem. Entretanto, o mesmo Locke aponta que o valor das pessoas é igual, sendo tratado cada um como gostaria de ser tratado e assim tratando.
Isso tudo é balela de Locke?
Não dialoga em nada com Jean-Jacques Rosseau, que pensava serem os humanos detentores de um estado de natureza positivo, ou seja, são naturalmente bons, provindo os maus hábitos da corrupção gerada pela civilização.
Às favas com Rosseau!
Não há como explicar o inexplicável, buscar compreender o incompreensível, justificar o injustificável. Nem Sigmund Freud, nem Marx, ou mesmo Platão e Aristóteles. Qualquer um que no passado ou no futuro busque abordar o ser humano poderá explicar convincentemente o que ocorreu nesse caso.
Não há o que transigir diante dessa informação!
Verdade seja dita: só resta aparatar o Estado, reverter a condição negativa em que se encontra a instituição familiar e buscar o inalcansável, o incompreensível ao qual muitos denominam Deus, para evitar, repudiando com veemência, situações futuras como essa.

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