Direito a vestir

Algumas aberrações ocorrem por falta de evolução, outras por involução. Assim é a sociedade, com suas dicotomias, hipocrisias e primando por uma igualdade de direitos que é necessária, meritória, mas, ao mesmo tempo distante. E pior, culpa da própria sociedade. O ser humano, desde sempre, oscilou entre o animalesco e o civilizado.
Agora, mais recentemente, uma inominável aberração comprova-se a partir de dados tabulados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA que divulgou uma pesquisa que enseja conclusões esdrúxulas. Confirmam a barbárie e a brutalidade emocional, cultural de fragmentos sociais, ainda assim, animalescos seres humanos.
Imagine que a forma como se veste uma mulher está sendo apontada como estímulo ao estupro, como incentivo a libido que, pervertidamente transformada, torna-se agressão. 
Oras, esse raciocínio, ou melhor, essa conclusão significa então, conforme essa pesquisa que quase dois terços dos entrevistados consideram merecedoras de violência sexual as mulheres que gostam de se vestir com roupas que “mostram o corpo”. É de pasmar. E mais ainda, alguns dos ouvidos afirmam que o estupro se dá por causa de comportamentos femininos.
Ou seja, partindo dessa linha de raciocínio, antigamente todas as índias teriam que ser estupradas. Afinal, andavam peladas, nuas.
Mais modernamente, se a mulher vai a uma praia de nudismo, então, quer ser agarrada! É esse o conceito, comparativamente falando?
Mais aberrações que ultrapassam o limite do absurdo tolerável. Impõem a necessidade de que o pensamento evolua em muito.
Está assegurado constitucionalmente e há direitos humanos em uma declaração universal que asseguram (e não se está falando aqui declaração de direitos humanos para bandidos e sim para as vítimas que são as que menos conseguem ser assistidas).
Há várias formas de entender a tal pesquisa, afinal, se trata de uma induzida, em que os entrevistados deveriam responder entre opções previamente apresentadas a eles.
Concebível entender que 65% dos entrevistados admitem o estupro como forma de punir a mulher que abusa de sua liberdade e da liberdade dos costumes? 
Se essa for a compreensão, se um cidadão vê o outro contando dinheiro na sua frente, obrigatoriamente terá que cometer um assalto e tomar o dinheiro da mão do outro…
Se assim, realmente, for, sempre que alguém expressar sua opinião sobre qualquer assunto, deve ser contraposto, com argumentos a altura, independente de ter razão ou não…
Incontestável a aberração e o absurdo de entender que a vítima é quem causa o crime de estupro por estar com esta ou aquela saia, calça ou camisa.
Acaso quem esteja de calçados mais pesados, então, deve ser pisoteado?
Todo ser humano tem o direito de vestir-se como desejar, circular como desejar, desde que não desrespeite a liberdade de seu semelhante, a moral e os costumes culturais – que vem sendo modificados a cada momento.

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