Enredo do sucesso

Apesar de todas as críticas que, até com certo fundamento, têm sido lançadas no cenário de debates sobre o carnaval de Sant’Ana do Livramento, é importante o reconhecimento de que, feitas as correções evidentemente necessárias, o evento caminha, sim, em direção a um estágio realmente profissional e voltado à contribuição efetiva para o desenvolvimento econômico da Fronteira, e não apenas a ser mais um evento de diversão e resgate cultural popular. Depois de uma pausa, conscientemente adotada pela Liga Independente das Escolas de Samba-Liesa, em conjunto com as próprias escolas, já neste ano o carnaval teve um avanço muito significativo. É bem verdade que ainda há muito a caminhar em termos de planejamento e racionalização do trabalho, dentro da meta de transformar esse evento em um efetivo meio de geração de emprego e renda para o município. O carnaval provou que é um evento da comunidade, feito pela comunidade independentemente de que seja ou não explorado como atrativo turístico – basta ver o nível de participação popular nas atividades realizadas por cada uma das entidades carnavalescas da Fronteira, durante o período de ensaios, e nos próprios desfiles, especialmente nas duas primeiras noites de avenida.
De fato, ainda há muito a ser feito e outros tantos aspectos a corrigir, mas o importante é que a disposição e seriedade com que carnavalescos e comunidade se dedicam ao evento o tornam uma segurança para qualquer investimento mais sério. Os fatos não permitem questionamentos. Isso quer dizer que mesmo uma dificuldade associada com um verdadeiro atraso cultural, que é o problema dos atrasos, pode – e deve – ser superada nas próximas edições, exatamente porque pode e deve existir uma consciência quanto a essa necessidade, símbolo principalmente de respeito ao público e prova de capacidade de gerenciamento.
Essa é uma situação que a imagem de credibilidade que a Liga Independente das Escolas de Samba conquistou nos últimos anos facilmente conseguirá superar. Ainda que os desfiles não mais comecem em um país para terminar em outro – como alguns ainda defendem – os bons resultados da última edição do evento demonstram que o Carnaval Internacional pode ser explorado de maneira profissional, responsável e participativa, com associação de marca/imagem também das empresas locais a todo sucesso e alcance popular que essa atividade representa. Mesmo que o retorno do investimento feito não seja direto, na venda de produtos e serviços, ele virá a curto prazo, beneficiando toda a comunidade, ajudando no aquecimento da economia, atendendo um objetivo social, e isso será bom para qualquer atividade econômica da Fronteira. Uma comunidade feliz e orgulhosa de sua cidade, consciente de sua força e disposta a crescer vende uma boa imagem e atrai visitantes de outras localidades – e com isso também atrai mais recursos externos para ampliar seu ativo circulante. É uma questão de lógica.
Só que essa simples constatação vinha esbarrando, até agora, aparentemente, num fator: quem daria o primeiro passo para fazer girar as engrenagens necessárias. Inicialmente, a lógica indica que essa iniciativa deveria partir de quem tem os recursos para tornar mais fácil a realização do Carnaval com que todos sonham: que seja um evento bonito, que desperte interesse, que atraia turistas e recursos de fora, ao mesmo tempo em que difunda os valores e a cultura do povo. Isso implica em uma palavra: visão. Tanto de quem pode investir quanto, óbvio, dos próprios carnavalescos. E é o que se propõe. Só não vê quem não quer o grande potencial econômico que o carnaval internacional representa. Quem tem visão administrativa, quem tem feeling comercial, e principalmente quem quer de fato contribuir para superar a tão decantada crise que assola a economia local, sabe que esse é um enredo fácil de desenvolver, e que atrás de uma boa ideia só não vai quem já morreu…

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