editorial 11/02/14
Carta à Morte
Se um ser humano tencionasse escrever uma Carta à Morte, não no conceito científico, mas na abordagem empírica, etérea, certamente manifestaria um desagravo. Mesmo entendendo tratar-se ela, a Morte, da consequência (ou causa? – partido da suposição de relação entre fim e início e/ou início e fim) final, sua chegada não é bem recebida quando essa presença se dá em circunstâncias que impedem a continuidade que os seres humanos esperam que suas vidas tenham. Essa compreensão pode parecer egoísta, mas é, sobretudo da essência do ser.
Vida e morte – há quem entenda, são os dois lados da mesma moeda; o Yin e o Yang do taoísmo; o sim e o não; o branco e o preto; analogias que, permitam, podem servir como definições, mas em nada, esses entendimentos sufocam a amargura que a brevidade de uma vida gera, muito menos neutralizam a dor que causa ou ainda, abreviam a saudade que permanece.
O fim de semana que passou, nessa Carta à Morte, falaria de honra e coragem, no falecimento de um policial militar; dialogaria também com a intensa e profunda dor pela passagem de um inocente.
Abordaria também, a carta, num clamor para que houvesse uma forma de aplacar o sofrimento, prévio e posterior; de reduzir a intensidade da tristeza e diminuir a sensação de vazio um tema chamado violência e a incompreensão que dela deriva ou que a ocasiona. Estes são, pelo menos até aqui, conforme esse suposto documento que seria remetido à personificação Thanatos – para usar um exemplo da literatura clássica. Se bem que é preciso considerar um ponto em especial e o arrazoado consideraria: a morte faz-se notória e ganha destaque especial ao ocorrer em seres humanos, havendo diferenciação no que se refere à compreensão quando ceifa vidas de outros seres do mundo animal. Há quem defenda veementemente que não há nenhuma evidência científica de que a consciência continue após a morte, no entanto, em contraposição, constata-se a existência daqueles que argumentam o contrário, de que existem várias crenças em diversas culturas, desde os tempos históricos que acreditam em vida após a morte.
Como conclusão da correspondência, o pedido para que o ceifar seja, sim, pelo rumo natural das coisas, lá no ocaso da idade cronológica, um regramento em seu manual, não uma casualidade em sua rotina. Pois, vem dali a aceitação, ao passo que a precocidade violenta e irracional traslada aos tempos de hoje a humanidade que involuiu e não é isso que o ser social deseja. De si próprio, muito menos de sua Morte.
Nesse libelo, concebido pela mente humana, com seus equívocos e acertos, estaria também contemplado o desejo de que a compreensão fosse mais fácil e a aceitação menos dolorosa. Isso, se dirá à Morte, a fim de que não mais chorem mães, pais, avós, e, principalmente filhos que fiquem órfãos.
A Carta à Morte, por obviedade, seria aberta, qual petição pública, a todos quantos tivessem a intenção de assinar, pois embora não exista consolo é ela a maior certeza, a derradeira convicção do futuro, mesmo que toda uma cultura humana a tema.