“Minha querida, isso é uma lei brasileira. E não pode mudar. Não é uma questão de querer ou não querer”. Dilma Rousseff à colunista Mônica Bérgamo, da Folha de São Paulo, sobre a meia-entrada para os jogos da Copa

VAMOS CEDER À FIFA?

A presidente Dilma Rousseff não deveria ter se reunido com o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke. Quem tinha a obrigação de estar lá, em Bruxelas, era o presidente da entidade Joseph Blatter. Afinal de contas ali estava a presidente do Brasil para discutir o principal assunto dos próximos anos da Fifa, a Copa do Mundo de 2014. Não há desculpa para a ausência de Blatter já que se tratava de uma reunião agendada com bastante antecedência com o Palácio do Planalto.

Teria Blatter, na sua prepotência de se achar mais importante que o presidente da ONU, manifestado uma solidariedade a Ricardo Teixeira excluído da comitiva brasileira? Ao ser internado numa clínica no Rio de Janeiro, Teixeira escapou do vexame de ficar de fora de uma reunião sobre a Copa, mas quem garante que Blatter não lhe deu solidariedade ao não comparecer ao encontro em Bruxelas?

“Lei brasileira não pode mudar e não é uma questão de querer ou não querer”, disse Dilma Rousseff à jornalista Mònica Bérgamo, da Folha de São Paulo, apenas ratificando que vem afirmando desde que a Fifa mostrou não aceitar a questão da meia-entrada para idosos e estudantes nos jogos da Copa. A Lei Geral da Copa (LGC) está no Congresso e não trata da meia-entrada, nem da liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios, pois neste caso, são leis estaduais e/ou municipais.

Já o ministro dos Esportes, Orlando Silva, presente à reunião em Bruxelas, afirmou que o governo poderá propor o aperfeiçoamento do texto da LGC para ficar mais clara sobre alguns aspectos ponderados pela Fifa (venda de bebidas alcoólicas, meia-entrada e controle rígido sobre a pirataria de produtos licenciados pela entidade aos seus patrocinadores).

Pelo jeito como andam as negociações, parece que a Fifa vai mesmo interferir nos assuntos domésticos brasileiros, mudando leis e impondo-se como a controladora do Brasil em seus eventos esportivos durante a realização da Copa de 2014.

A Fifa se preocupa com o faturamento do evento: ingressos e proteção aos seus milionários contratos com os patrocinadores mundiais da entidade. A proteção aos que pagam centenas de milhões de dólares para ter suas marcas divulgadas abrange a venda de cerveja pela Budweiser (hoje a marca mundial é da AmBev) e lanches MacDonald’s nos estádios e a proibição de produtos piratas com as marcas licenciadas da Fifa.

Tudo isso pode ser resolvido, mas a meia-entrada para idosos e estudantes será um ponto de discórdia entre o governo brasileiro e a Fifa. Mesmo assim, sem revogar o Estatuto do Idoso e os direitos estudantis existe uma possibilidade bem plausível de ser implantada durante os jogos da Copa.

Para agradar à Fifa e aos beneficiários da meia-entrada, o governo brasileiro poderá subsidiar tais ingressos. A Fifa mandaria imprimir as meias-entradas e o Brasil pagaria a diferença. Como somos um país rico, os valores reembolsáveis sairiam por conta dos contribuintes. E nossa soberania estaria salva de alguma represália da Fifa. Quem pode, pode. Tal discussão ainda renderá muita polêmica.

FIFA ARGUMENTA (1)

O secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, disse na reunião em Bruxelas que os pedidos da entidade ao Brasil são os mesmos apresentados para a África do Sul e também para a Rússia para a Copa de 2018: ingressos sem benefícios, venda de bebidas alcoólicas nos estádios e controle sobre a pirataria.

FIFA ARGUMENTA (2)

“Nós reconhecemos leis nacionais e regulamentos e vamos trabalhar para assegurar que as leis continuam lá, as devemos admitir que a Copa do Mundo é um evento único”, afirmou Valcke. Ou seja, tudo se ajeita no devido tempo. E cá entre nós: a África do Sul e a Rússia em se tratando de “arreglos” são países parecidos com o Brasil.

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