O miolo da questão

Quando se pensa em desenvolvimento de um município, é preciso raciocinar sobre alguns elementos centrais. São vários, interagem e se distanciam, voltam a interagir e voltam a se distanciar. É preciso agradecer à Almadén, ou melhor, a Adriano e Paulo Miolo. Eles, distantes, dissociados da comunidade, sem qualquer compromisso com os santanenses, deram talvez a contribuição que possa ser considerada como um divisor de águas no entendimento do que Sant’Ana do Livramento quer.

Eles, com sua decisão de não mais envasar vinho em Livramento, na unidade da Almadén, conseguiram fazer sentar à mesa políticos dos vários partidos, ou seja, do Executivo e Câmara de Vereadores, empresários, profissionais liberais, imprensa e uma série de outros representantes institucionais. Oportunizaram ainda, que se dê o pontapé inicial na discussão sobre a Sant’Ana do Livramento desejada, em todos seus aspectos.
Não podem ser liberados da responsabilidade pela perda de postos de trabalho e de ICMS, bem como pelo fato de os santanenses não mais poderem se gabar de ter vinho engarrafado na origem com a marca Almadén. Mas os Miolo não são vilões.
Precisam entender que podem e devem fazer parte da coletividade local. Serão bem-vindos se assim entenderem que devam. Mas, para isso, precisam estar comprometidos com as causas locais e, talvez, sob algum ponto de vista, ainda venham a estar, tão logo compreendam de pleno, como as cabeças pensantes de Livramento funcionam, quais são os entendimentos locais, a cultura de organização existente.
É aquilo que já foi dito.
A comunidade de Sant’Ana do Livramento, por intermédio de seus representantes, já foi suficientemente clara em manifestar e solicitar que o engarrafamento fique em Livramento. E isso vale para Almadén Miolo e para a Nova Aliança.
Agora, é buscar todos os canais possíveis, desde Tarso Genro até a presidenta Dilma Rousseff, no sentido de olhar para este município e sua gente com um olhar diferenciado, haja vista a natural relação de afetividade que se forma a partir do acolhimento peculiar de uma marca como a Almadén é adensada quando a cidadania sai em sua defesa. Da mesma forma, que não sejam entendidas as manifestações, legítimas, reais e válidas, como ofensa ou mesmo desaforo. Não, os santanenses vêm, em sua história, entristecidos e cabisbaixos pelo que é dispensado, indistintamente, a todos os munícipes no que se refere a possibilidade de desenvolvimento.
Pode parecer muito estranho estar agradecendo aos Miolo pela retirada do engarrafamento e sua transferência para Bento; pelos 17 ou 30 postos de emprego que poderão ser perdidos (espera-se que sejam efetivamente realocados), pelos mais de R$ 7 milhões de ICMS que deixarão de vir para o orçamento do município.
Mas não é isso.
O agradecimento é pelo fato de que com sua decisão administrativa embasada nos cálculos de custo de logística – modalidade transporte, despertaram a cidade, gerando uma mobilização de pessoas que estavam antagonicamente ou desinteressadamente em posições diferentes.
Os Miolo deram uma causa aos santanenses, independente de ideologia e partidos. Deram a possibilidade de que todos se manifestem, sentem-se e conversem, debatam, discutam e mesmo por maioria e não unanimidade, concretizem uma integração social construtiva.
Se isso vai persistir – e tomara que assim seja – o foco no desenvolvimento efetivo, prático e sem falácias, está mais do que consignado. Agora, mãos à obra.
Pois os santanenses aprenderam a ir ao miolo das questões.

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