POBRE MARANHÃO!

O maior escritor de Alagoas e um dos maiores do nosso país, Graciliano Ramos, conversava com o jornalista e também escritor sergipano Joel Silveira:
– Olhe, Joel, descobri o mal do Brasil. É não ter um golfo. O golfo é o nosso problema. Todo país do mundo que se respeita tem golfo. Os Estados Unidos têm o golfo do Alasca, a União Soviética, os golfos do Polo Norte. Até o Vietnã tem o golfo de Tonkim. No mundo antigo, a Pérsia só foi importante porque tinha o Golfo Pérsico. Nós não temos golfo nenhum.
– E não podemos fazer nada, Graciliano.
– Podemos, sim, Joel. Podemos arranjar um golfo. É só cavar Alagoas e Sergipe e jogar no mar e teremos um golfo espetacular. Um dos maiores do mundo. Daí em diante estarão solucionadas todas as nossas angústias.

Já este colunista pergunta: Quem duvida que Graciliano Ramos, se vivo fosse, não transferisse sua refinada ironia para “solucionar” o que ocorre no Maranhão?

O ESCRITOR
Solto na ditadura de Vargas, Graciliano Ramos foi para a casa de escritor José Lins do Rego. No dia seguinte, Zé Lins levou-o ao Ministério da Educação para agradecer ao titular da pasta, Gustavo Capanema, o pedido que havia feito a Getúlio para libertá-lo. Foram, estiveram com Capanema. Na saída, Zé Lins estava feliz:
– O que é bom neste País é isto. Há algumas horas você estava num cárcere da Ilha Grande e agora acaba de ser recebido sem marcar audiência
– O que você está dizendo é verdade. Mas não esqueça que também pode acontecer o contrário. Pode alguém estar aqui, na cadeira de ministro, e horas depois estar trancafiado lá na Ilha Grande. Isto sim é que é Brasil.

E foi escrever as clássicas “Memórias do Cárcere”

OS DOIS EPISÓDIOS
Quem lembra os dois fatos ocorridos com Graciliano Ramos é o jornalista Sebastião Nery em seus imperdíveis e antológicos registros do “Folclore Político Brasileiro”.

IMPUNIDADE NA SELVA (1)
O professor Stef Pinheiro de Souza, de 43 anos, o técnico Aldeney Ribeiro Salvador, de 40, e o representante comercial Luciano Ferreira Freire, de 30, desapareceram no dia 16 de dezembro quando seguiam de carro (um Gol preto) pela Transamazônica e passavam pela reserva indígena Tenharim Marmelos, em Humaitá, sul do Amazonas. Familiares acreditam que eles foram mortos pelos índios, o que gerou uma revolta na região e a destruição de instalações indígenas. Tropas do Exército ocuparam a Transamazônica no final de dezembro, em apoio ao trabalho da Polícia Federal, que investiga o desaparecimento.

IMPUNIDADE NA SELVA (2)
A situação é constrangedora. Os índios são todos aculturados, moram em casas de madeira, com energia elétrica e acesso à internet. Ou seja, não podem ser considerados inimputáveis e respondem a processo como qualquer cidadão, por serem capazes de perceber o que é certo ou errado. Diante da atitude de um funcionário da Funai, que divulgou no site da entidade um boato de que o cacique Ivan Tenharim não morreu na queda da moto, mas teria sido assassinado, os índios se vingaram, sequestrando três homens que viajavam na Transamazônica.

IMPUNIDADE NA SELVA (3)
Um soldado da PM passou na estrada e viu os índios escondendo o carro Gol preto. Os três homens estão sumidos há quase um mês e nem seus corpos foram encontrados. Esta é a situação atual. A equipe de busca (Polícia Federal, PM e Exército) pode até achar os corpos. Mas os assassinos ficarão impunes. Se não forem apontados pelos próprios índios, jamais se fará justiça. E o pior é que as lideranças indígenas já anunciaram que vão reabrir o pedágio ilegal na rodovia, e isso significa que tão cedo não haverá paz naquela região do país. (Carlos Newton, jornalista)

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.