Comandante do 2º RPMon fala sobre fuga de apenados do presídio local

Segundo Major Gayer, a guarda externa chegou a dar um tiro de alerta para tentar impedir a fuga ocorrida na última sexta-feira

O major Marcelo Gayer Barboza, atualmente comandando o 2º Regimento de Polícia Montada-RPMon, concedeu entrevista, na tarde de ontem, 7, no sentido de fazer um contraponto às informações publicadas no último sábado, a respeito da fuga de dois apenados da Penitenciária Estadual de Livramento, no fim da madrugada de sexta-feira, 3.

Guarita por onde os apenados conseguiram fugir

Conhecedor do funcionamento de casas prisionais no Estado, Gayer, que já ocupou por sete anos o cargo de sub-diretor do Presídio Central, em Porto Alegre, e por um ano o semiaberto da Modulada de Osório, enfatizou que a Brigada Militar vem realizando, no presídio local, uma missão que não é de responsabilidade sua, ou seja: o controle do portão principal deveria ser de responsabilidade de agentes da Susepe. “O efetivo do dia era superior ao do que normalmente é escalado. No fim de ano, reforçamos a guarda com mais um policial, até porque sabemos que a probabilidade de fuga é bem maior neste período do ano. Se não tivéssemos que deixar dois militares no portão principal, poderíamos estar ocupando as guaritas que ficam no muro da penitenciária. Mesmo assim, foi a Brigada Militar que constatou a fuga e deu o alerta para a guarda interna da Susepe. Houve, inclusive, o disparo de arma de fogo, em direção aos presos, na tentativa de evitar a fuga, o que acabou não ocorrendo”, disse o major. 

Major Gayer, comandante do 2° RPMon

A Plateia: Pelo número de guaritas existentes, a Brigada Militar teria condições de ocupar todas?
Gayer: Aquele dia, estávamos com quatro policiais, mas o normal são três. Pelo número de guaritas que existem, a Brigada Militar não tem como ocupar todas, então priorizamos aquelas que proporcionam uma melhor visualização do complexo. Nestas duas oportunidades – fuga e tentativa-, a Brigada Militar viu e comunicou ao presídio.

A Plateia: Duas fugas?
Gayer: Sim, há poucos dias, no mesmo dispositivo, nas mesmas configurações e quase no mesmo lugar onde foi constatada esta segunda fuga: perto da caixa d’água. Só que a anterior acabou sendo frustrada pela equipe que conseguiu pegar os apenados antes de saírem da área externa.

A Plateia: Pela sua experiência em penitenciárias, o que mais o preocupa nesta situação local?
Gayer: O presídio de Livramento já foi oficiado sobre os problemas que apresenta em sua estrutura, com relação à instalação de consertinas, conservação do prédio. Inclusive, a Brigada Militar se colocou à disposição para ajudar a revista periódica. Em nenhum momento foi solicitada a presença da Brigada para auxiliar nas revistas e realizar uma estrutural. O que me surpreende é o seguinte: o controle de entrada e saída de pessoas dentro do presídio e entrada de material ilícito.
Não estou falando empiricamente, estou falando porque já fui diretor de presídio e sub-diretor do presídio central. Serrar uma grade não acontece de um dia para o outro. É preciso abafar o som produzido pela serra. Os apenados também precisaram, possivelmente, colocar roupas na janela, para esconder o movimento na cela. Outra coisa que me chamou a atenção neste episódio é que uma escada deste tipo não é feita em poucas horas, com restos de material de limpeza. No presídio, se você pega uma vassoura, ela tem que voltar. Se voltar somente a parte de baixo, onde está o cabo? Acredito que esta cela esteve sem revista por cerca de três a quatro dias.
Então, na realidade, houve uma série de coisas um tanto estranhas. É natural que se faça, dentro de presídios, no mínimo, uma revista por semana nas celas, para poder detectar este tipo de situação. Acredito que as ações de revistas estruturais dentro das celas devam ser feitas em maior intensidade.

Outra visão da guarita por onde os apenados fugiram

A Plateia: E quanto ao reforço que o diretor da penitenciária solicitou à Brigada Militar?
Gayer: Quanto ao reforço, foi também oficiado ao diretor do presídio que a Susepe deve assumir a sua responsabilidade dentro da penitenciária, ou seja, o portão principal de entrada não é de responsabilidade da Brigada Militar. Já foi informado, há mais de dois anos, para o diretor do presídio, que a Susepe assuma o portão principal para controle de entrada e saída de pessoas naquela área. O que vem acontecendo é que temos dois servidores nossos, que poderiam estar ocupando as guaritas, e estão ali na guarda. Até agora, não foi tomada nenhuma providência.
Na realidade, nós temos quatro servidores dentro do presídio. É quase que 100% do policiamento motorizado da área de Sant’Ana do Livramento. Temos que trabalhar dentro das condições que temos. No momento em que a BM for liberada do portão, teremos mais dois servidores que ficarão no muro, na missão que é constitucional da Brigada Militar: responsável pela guarda externa do presídio. Abrir e fechar portão não é nossa responsabilidade.

A Plateia: Quais as providências que estão sendo tomadas a partir deste fato?
Gayer: Determinei ao oficial encarregado com o presídio que fizesse um levantamento de todo os pontos que nós entendemos que estão causando problemas. Não posso estar emperrado por verbas ou algum tipo de recurso para que se conserte o local, pois neste meio tempo, vai sair mais gente por ali. Já foi aberta uma sindicância para apurar o fato da fuga, assim como da outra vez.

A Plateia: O senhor falou que nesta sindicância, inclusive, foi recolhida a arma do policial que efetuou o disparo?
Gayer: Sim. Normalmente, neste tipo de situação, se usa a munição antimotim, de menor potencial ofensivo, ou se usa a munição real para tentar inibir a fuga. Como, a princípio, o apenado não está armado, o tiro é de advertência.

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