A lição do javali

“Não há receita pronta… Vocês vão ter que aprender a conviver com eles”. A frase de João Dotto, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, ecoou em meio ao calor abafado da tarde de ontem, pelo sistema de som do auditório da Acil, levando a um ar de incredulidade coletiva por parte da maioria dos produtores que compareceu ao Simpósio sobre o Javali.
Como é sabido e já notório não há formas específicas ou rápidas para colocar um fim nessa praga que detona lavouras e dizima rebanhos ovinos nas estâncias da Fronteira. O detalhe é que se Dotto realmente tiver razão – e provavelmente tenha –, dará razão ao que disse recentemente durante entrevista ao programa Canal Livre da RCC FM, Matheus Effler, presidente do clube de tiro em formação no município: “Em 10 anos, se não houver controle efetivo, eles (os javalis) andarão virando lata de lixo na cidade”.
A situação é grave.
É preciso entender como um sistema. Daqueles que a gente aprende nos bancos escolares ou acadêmicos. Um depende do outro. Se o produtor não produzir o alimento, este vai faltar na cidade. Se a cidade não providenciar soluções para a produção, este não vai produzir o alimento.
Existem algumas lógicas que devem permear o aspecto técnico e o ideológico e, sobretudo, fazer com que prevaleça a praticidade.
Seja o javali, a lagarta helicoverpa, o capim annoni e alguma outra praga se associarem, poderão detonar com todo o sistema produtivo da região. Eles, certamente, não farão isso. Claro que não. Afinal de contas, por mais inteligente que possa ser o javali (e, claro, “o porco” é mais esperto do que pensam que ele seja – afinal, a evolução do sistema provê que assim seja) certamente não poderá contar com o cérebro da helicoverpa. Do annoni, não precisa falar, claro.
Aí está, em associação, seriam imbatíveis no enfrentamento dos humanos. Mas eles não sabem disso. Ainda bem.
Metáforas e palavras humorísticas à parte, fica evidente que uma palavra utilizada no simpósio de ontem precisa ser mais utilizada, assim como seu conceito e o uso prático: inteligência.
Mas, inteligência precisa ser associada à celeridade e recursos, pois é evidente que a soluções não surgem de um momento para outro, mas as instâncias públicas precisam estar mais atentas à realidade de sua população, pois é efetivamente em função dela que está centrada a própria existência de uma repartição.
Ora, a crítica e o nível de exigência são naturais peças do sistema. Precisam ser compreendidos e assimilados por quem exerce e detém a função pública. A exigência é crescente e sua curva será sempre ascendente.
O simpósio deixou muito claro que a união provoca reação. Produtores da região vieram a Livramento e, diante disso, representantes do governo – das áreas técnicas – também para cá se dirigiram. É assim que funciona: uma coisa é ir o fulano de tal, só, bater às portas do Piratini, outra – bem diferente – é uma comitiva com 20, 30, 40, 50 fulanos e cicranos indo até o local e pedindo uma parte do tempo do primeiro mandatário estadual.
Certamente, nem o javali (mesmo aquele do monte Erimanto – que, segundo os gregos, foi subjugado pelo mitológico Hércules), nem a helicoverpa dispõe dessa capacidade. Muito menos o annoni.
Está certo que não existe receita pronta. Mas, fica a lição do javali.
Basta entendê-la.

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