Denuncismo juramentado

O fictício Odorico Paraguaçu, um cômico personagem vivido, na televisão, pelo ator Paulo Gracindo – nos anos 70, imortalizando, pelos gestos e trejeitos, a criação do dramaturgo brasileiro Dias Gomes – certamente teria uma frase lapidar para o que vem acontecendo em Sant’Ana do Livramento. Para quem lembra da novela O Bem Amado e as peripécias de Sucupira, ou mesmo os mais recentes que assistiram o filme ou a minissérie televisiva de 2011, não seria novidade os discursos recheados de pérolas e expressões de tipicidades.

Ante os ataques e contra-ataques da vida real, constatados a cada período, em um legítimo bombardeamento multipartidário que ocorre entre os próprios vereadores e entre uma fração destes e os integrantes do Executivo, certamente, Paraguaçú (mais o falecido Gracindo, com seus trejeitos) diria: “meu caro jornalista, isso me deixa bastantemente entristecido, com o coração afogado na daceptude e no desgosto. Numa hora em que eu procuro arrancar o azeite-de-dendê do estágio retaguardista do manufaturamento (…), me vêm com esse acusatório destabocado, que somentemente se traduz em um calunismo marronzista, um acusatório difamista dos contrários, mormente e prafrentemente, os a favor virarão os do contra e os do contra, extrapolantemente virarão a favor.”

A fase paz e amor da política santanense parece ter deixado definitivamente de existir – muito antes até do que fosse previsível. Simplesmente deixou de existir, cedendo lugar à busca incessante por erros, equívocos e situações que possam desestruturar um e outro lado e os discursos de construção conjunta, de efetividade do exercício democrático com foco exclusivo na comunidade, reduziram significativamente. Das duas uma: ou é o risquício da velha política ou é uma incompreensível carga de pensamento distoante.

Mas, segundo citação de Odorico: como diria o rei dos persas, Dario Peito de Aço, “pra cada problemática tem uma solucionática”.

E, de fato, para acabar com o denuncismo e os discursos prolixos que vêm se registrando de um e outro lado que em nada constroem, seria de fundamental importância aproveitar este período – propício à reflexão – para resgatar o Partido de Santana, o PS.

Afinal, voltando ao prefeito sucupirano, que se dizia “meio socialista, meio esquerdista e centrista; não da ponta esquerda… do meio de campo, caindo pra direita”.

Diferentemente do que a ficção possa levar a crer, as pessoas tomam partido, sim, mas nem por isso, pelas diferenças de entendimento e ideologias elas precisam estar umas contra as outras, especialmente se o objetivo central a que se proponham, efetivamente, seja melhorar a vida, o cotidiano das pessoas.

Esse é o entendimento mínimo que precisa estar presente, pois a exemplo do que ocorria na novela e após, no seriado O Bem Amado, sempre haverá um Nezinho (representante do povão) para bradar. Mesmo que, como na ficção, fosse “Viva a Odorico” ou, em outras oras, “Morra Odorico”.

Para finalizar, em termos de entendimento político, respeitadas as diferenças, com certeza seria o momento de dizer outra frase lapidar de Odorico: vamos botar de lado os entretantos e partir para os finalmente…

 

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