Pontuando

É preciso deixar alguns elementos muito claros quando se fala em economia de fronteira. É verdade que algumas transformações ocorram, aproveitamento de mão de obra, inclusão parcial no mercado de trabalho. É aquela história: melhorou para uma boa parcela, mas ainda é insuficiente pela condição real.
A ponto de Livramento e Rivera – pensando-se em consumo, possam ser considerados como locais caros para se morar e viver. Prova disso é efetiva valorização dos imóveis e, de fato, o número significativo de obras realizadas, sobretudo em função do programa Minha Casa Minha Vida. É valor, sim. Isso é positivo e importante.
Em Rivera, os milhões que vêm comprar deixam igualmente milhões, que são transformados em dólares.
Nesse sentido, é preciso recordar alguns pontos, considerando-se o aspecto econômico. Um deles é que o poder real de compra ou poder aquisitivo efetivo do santanense ainda é menor, na escala geral, do que em cidades proporcionalmente com economias semelhantes. Ou seja, o santanense trabalha mais horas para produzir valor e este circulando na economia, circula em menor peso para apropriar valor à capacidade de compra de uma fração importante dos cidadãos. Ampliando para o Brasil, vale analisar.
Em 1986, a conceituada revista The Economist criou um índice para avaliar o nível de apreciação ou depreciação de diversas moedas nacionais em comparação com o Dólar norte-americano, utilizando como referência um único bem, o Big Mac. A ideia se baseia na teoria da Paridade do Poder de Compra, segundo a qual a taxa de câmbio nominal deve refletir os preços relativos de duas moedas. Dessa maneira, se um mesmo produto custa R$ 2,00 no Brasil e US$ 1,00 nos Estados Unidos, o Dólar deveria custar R$ 2,00 no Brasil. É mais ou menos assim. Assim, segundo os defensores dessa teoria, a escolha do Big Mac se deu por este produto ser similar em todo o mundo. Ou seja, carne, pão, vegetais, queijo, etc…
Considerando o índice Big Mac de março de 2006, um indivíduo poderia comprar um hambúrguer nos Estados Unidos com US$ 3,10. Nesta mesma data, no Brasil, o preço equivalia a US$ 2,98. Mais barato em US$ 0,12 na comparação.
Da mesma forma que esse “índice Big Mac” mostra que a taxa de câmbio brasileira está sobrevalorizada em mais de 30%, mas se analisado o preço do dólar neste mesmo período, observamos que o Real valorizou-se frente à moeda americana em aproximadamente 7,5%. Basta olhar ao redor, para concluir que esta perda do poder aquisitivo se dá face ao aumento da renda nominal dos brasileiros sem a contrapartida de crescimento do rendimento dos fatores de produção. Ou seja, há mais moeda em circulação e uma classe média emergente, mas a oferta de bens e serviços não atende à demanda com a eficiência necessária, gerando demanda reprimida e aumento de preços.
A perda do poder aquisitivo da moeda brasileira, simbolizada pelo preço de um Big Mac, representa a ineficiência da produtividade nacional, levando a refletir sobre a necessidade de uma agenda econômica mais profunda e que vá além de medidas pontuais, ora para incentivar o crescimento de determinado setor, ora para controlar a inflação, como tem se observado.

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