Paixão Côrtes recebe distinção de entidades do folclore uruguaio

Ex-prefeito realiza visita ao precursor do tradicionalismo gaúcho, que foi homenageado por uma comitiva de representantes de Montevidéu

Não poderia ocorrer em data mais oportuna. Em plena Semana Farroupilha, quando o gaúcho evoca sua essência rural e pampeana, o folclorista João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, em Porto Alegre, recebeu um grupo de visitantes muito especiais.

A visita de uma representação uruguaia foi acompanhada por outro santanense, o professor Wainer Machado, ex-prefeito de Livramento, que estava visitando seu conterrâneo na capital rio-grandense.

“Em 1949, Paixão Côrtes e os integrantes do grupo dos 8 – precursores de tradicionalismo – foram recebidos em Montevidéu, por lideranças latino-americanas, com a incumbência de preservar as tradições campeiras, os costumes regionais interioranos”- relata Wainer Machado, que obteve a confirmação de Paixão Côrtes de que, naquele momento, quando os rio-grandenses foram recebidos como autoridades brasileiras e foram assim distintos como tais, teve início, efetivamente, a transição da amizade entre os povos da pampa, para o processo de integração, ainda que com a preservação plena das características de identidade entre gaúchos brasileiros e gauchos da pampa argentina e uruguaia.

“O foco era a preservação e a valorização do homem da pampa, o gaúcho” – relata Wainer Machado, salientando que passados 64 anos, o folclorista santanense foi homenageado pelos representantes das entidades uruguaias, recebendo-os em sua residência, onde se recupera, sob cuidados da família, uma vez que recentemente esteve hospitalizado para tratar de problema de saúde.

Homenagem

Pilchado à moda gaúcha, Paixão Côrtes, estava com uma centelha da chama crioula quando recebeu a homenagem. O reconhecimento ocorreria com o encontro da comitiva de entidades representativas uruguaias no Acampamento Farroupilha, no parque da Harmonia, no dia 19 de setembro, mas, por orientação médica, Paixão recebeu a láurea em casa.

Resgate de uma história

Do alto de uma pira de cinco metros brilhava a chama da pátria nacional. Era 7 de setembro em Porto Alegre, Dia da Independência do Brasil, mas também uma data que a partir de então teria duplo significado para os moradores do Rio Grande do Sul.

Assim como os movimentos sociais que fazem história no País a cada geração, em 1940 um grupo de oito amigos dava um passo que reviveria tradições esquecidas no cotidiano das crescentes metrópoles. Eles “roubaram” uma centelha da pira para acender pela primeira vez a Chama Crioula.

Aos 86 anos, Paixão Côrtes relembra a origem do movimento tradicionalista gaúcho, lançado em 1940, por oito amigos, que realizaram a primeira ronda crioula.

“Era 7 de setembro e peguei em casa um cabo de vassoura. Quebrei, enrolei um pano na ponta e embebi de querosene. Era de uma rusticidade, de uma simplicidade que tinha de ser. Então cheguei até a solenidade, guardada pela Liga de Defesa Nacional. Subi a pira e lá de cima via-se aquela massa de povo. Solenemente me perfilei, acendi um candeeiro e fiz um sinal, assim, da esquerda para a direita. Foi o momento de maior emoção da minha vida”, conta Paixão Côrtes, sem esconder a profunda emoção que sente nessa lembrança.

O DTG do Julinho

Naquela época, o santanense era o responsável pelo DTG – Departamento das Tradições Gaúchas do colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Paixão Côrtes contava, na época, 20 anos.

“Houve um tempo em que se esperava exterminar com tudo que era velharia. Era a invasão da música europeia, do cinema, dos discos. Sentimos esse impacto do abandono das raízes e resolvemos reagir como jovens”, contou.

A Semana Farroupilha, segundo ele, era chamada inicialmente de Ronda Crioula.

O evento de sete dias, até o 20 de setembro, data do início da Revolução Farroupilha, reunia bailes, concursos de danças e vestimentas, hábitos galponeiros e rodas de chimarrão na programação da escola. A reintegração cultural era o objetivo daquele movimento que, mais tarde, foi denominado de Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG).

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