Cavalo por vaca

O Brasil abate cavalos, mas exporta toda a sua produção. Não consome. O gaúcho na sua relação da “lida” e na celebração das nossas mais caras tradições mantém um vínculo de afetividade e parceria indissolúvel. O cavalo é “símbolo”. É uma forma de ver o mundo, no “lombo do cavalo”. Por isso, a decisão no aparte para o abatedouro, quando acontece, se traduz no “vai pra conserva”. Como se fosse um consolo, mesmo que os produtores mais tradicionais prefiram manter os animais sem serventia no pasto até a morte. Porém, os números de embarques para a exportação de carne de cavalo, que atingiram 2,4 mil toneladas em 2012 demonstram que o fornecimento de animais aos frigoríficos é expressivo. Agora, quando estourou o escândalo na Europa envolvendo a presença de carne de cavalo nos alimentos, o tema “veio a baila”, especialmente porque as suspeitas alcançam produtos feitos a partir de carne bovina que poderia estar misturada com carne de cavalo, fraudando os consumidores. Estes produtos sob suspeição seriam pratos prontos, compostos por hamburguers, lasanhas e salames, passíveis dessas misturas desapercebidas até então. Não se pode desconhecer que a carne de eqüídeos é consumida em outros territórios do mundo, como a Bélgica, Holanda, Itália, Japão, França e Estados Unidos. A ocorrência em debate, além de envolver a reputação dos países e empresas fornecedoras de alimentos assume outros contornos mais amplos. Com efeito, os animais aqui são especialmente de trabalho e de estimação e somente num plano secundário se destinam a alimentação. Lá tudo começou porque esta carne rica em ferro se tornou abundante em um período na Europa, pelo descarte dos animais de trabalho, com a industrialização crescente. Carne vermelha e barata, passou a formar o cardápio dos menos favorecidos, gerando hábito de consumo, que embora reduzido, ainda persiste até os dias de hoje. Nesta perspectiva também se inserem as normas internacionais de proteção aos animais contra os maus tratos e sacrifícios inadequados, bem como a preocupação sanitária e identificação de origem que não tem a mesma qualificação como nos abates de bovinos e ovinos. Verdade é que para nós os cavalos têm e devem ter cuidado especial em todas as suas circunstâncias. Com tratamento justo, considerando o “status” que tem o animal na relação com o homem e a sua pureza selvagem, digna de admiração. Sem falar na gratidão pela contribuição do cavalo nas nossas conquistas cívicas de soberania e liberdade. O fato alerta para nunca sermos surpreendidos pelas nossas próprias ações. Mas também para refletirmos e corrigirmos as eventuais mazelas que desqualificam o ser humano, quer por falhas de conduta que é o mais grave, quer por interesses econômicos, que no afã de obter resultados fáceis não escolhe os meios e desconsidera valores fundamentais da vida.

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