De bem com a vida e com o tratamento

Mário César Porto

A segunda matéria da série sobre Hemodiálise traz o perfil de Mário César Porto, um paciente dedicado a motivar os demais. Vale a pena conhecer.

A empolgação desse santanense de 42 anos pode ser identificada no seu tom de voz. Por meio de uma fala rápida e alta, ele conta a sua história com facilidade, na esperança de ajudar a esclarecer outras pessoas que necessitam de hemodiálise e se sentem inseguras por falta de informação. Mario César Porto, voluntário da ONG Alô Rim Livramento, é o típico exemplo de paciente que transforma a doença em mais um bom motivo para estar vivo.

A razão que levou o pai de família a necessitar de hemodiálise foi a hipertensão. Conforme ele conta, mesmo sabendo que tinha pressão alta, nunca deu muita importância para o problema, acreditando ser muito novo para começar a tomar remédios. “Foi ignorância minha”, confessa. Somente em 2004, quando teve complicações graves de saúde, procurou um clínico geral. Até essa época, ainda não sabia que tinha só um rim. Mesmo com a confirmação das suas limitações, saiu do consultório médico com um único conselho: comer menos sal.

“Eu não me preveni”, conta ele, salientando que nem mesmo o médico tinha consciência de o quanto a situação poderia se agravar. Em maio de 2007, Mario Cezar começou a apresentar pés inchados e a pressão alcançava o seu ápice. “Foi aí que consultei a Dra. Mary Antunez, nefrologista da Cardio Nefroclínica, e fiz um tratamento de 45 dias, com o qual consegui recuperar 10% da capacidade de filtragem do meu rim”.

Em agosto de 2008, acompanhado de uma equipe multidisciplinar, começou a preparação para iniciar a hemodiálise, incluindo visitas às salas de tratamento e a realização de procedimentos específicos. O principal deles foi a confecção precoce de uma fístula no braço, acesso vascular ideal que garante o ingresso do paciente ao tratamento de forma segura e adequada.

Todo esse processo de conhecimento da realidade de um paciente renal é considerado, por Porto, o ponto mais positivo em todo esse cenário. “É fundamental uma boa preparação da pessoa para entrar na diálise. Ela precisa estar com a cabeça boa, sabendo que não é o fim do mundo e que isso dará continuidade à vida, sem muitas alterações”, esclarece, otimista.

Embora hoje tenha toda essa consciência, ele reconhece que para um representante comercial que viajava muito, jogava futebol, gostava de correr e não se preocupava com o que comia, saber que precisaria entrar em um tratamento sem data para terminar não foi nada fácil. Para superar o baque inicial, muito apoio da esposa e do filho foi necessário. Somado a isso, o entendimento dos pontos positivos fizeram com que Porto se dedicasse a entender a sua realidade e, voluntariamente, passasse a transmitir o que sabe aos seus colegas de sala de tratamento.

Tanto ele assumiu essa missão, que chegava mais cedo nos dias que tinha que fazer hemodiálise para conversar com os colegas, muitos deles já considerados amigos. Embora essa realidade tenha mudado há duas semanas, quando Mário foi chamado para realizar o transplante de rins, a experiência de quatro anos em hemodiálise e a forma como ele encarava o tratamento ainda servem de estímulo para os demais pacientes.

“No dia que eles estão sem ânimo para a diálise, devem lembrar daquilo que os motiva, seja um filho ou outro familiar. Porque o tratamento não pode significar o fim do mundo, mas sim, o seguimento da vida”, resume.Para quem que ainda duvida se a hemodiálise é um tratamento doloroso, o representante comercial aposentado responde que o processo de quatro horas de filtragem de sangue ao qual os pacientes se submetem é indolor – o único incômodo é a fincada da agulha necessária para a realização do procedimento.

“Eu sempre digo para a Adriana [esposa], que existem dores suportáveis e insuportáveis. Essa é suportável,” afirma ele, destacando que a parte física é a menos importante no tratamento, que depende essencialmente da motivação de cada um para ter sucesso.

 

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