Fechado para afogamentos. Técnica e fé se misturam na ausência de novos casos no lago Batuva

Sem registrar casos há três anos, Batuva se tornou o local de passeio preferido dos santanenses, quando o assunto é fugir do calor

Era verão de 1991, e com as obras praticamente acabadas no fim de 1990, o então Prefeito Glênio Lemos inaugurava o Lago do Batuva, ponto que se transformaria, anos mais tarde, em local turístico, com capacidade de atrair um grande número de pessoas da Fronteira, de outras cidades do Estado e até de outros estados. Desde então, a cada novo veraneio tem sido a mesma coisa: busca incessante por sombra, mergulho nas águas convidativas, esportes náuticos, eventos, shows e muitas histórias.

Para algumas famílias santanenses, boa parte dessas histórias nunca mais sairão da lembrança, porque é justamente nela – a lembrança – que reside a memória de parentes tragados pelas águas do local. O mesmo Batuva das tardes de chimarrão, do pôr do sol, da multiplicidade de sons dos carros estacionados, é também o local que apresenta um recorde negro, pelo número de afogamentos ao longo de sua existência. Ainda hoje é possível ouvir o lamento de mães, pais, irmãos, tios e amigos de cidadãos santanenses, em sua maioria homens e jovens, que perderam a vida no local, pelas mais variadas razões. Os mais experientes costumam recordar o quão traiçoeiras são as águas do lago, que fica cravado no seio do bairro Planalto, mas que é parada obrigatória no verão para aqueles que por opção, ou por falta de recursos, não podem se deslocar até o litoral gaúcho, catarinense ou de outros estados do Brasil, durante o período de férias.

Não raras vezes, a manchete do Jornal A Plateia, nas segundas-feiras, estampou a seguinte frase: “Jovem morre afogado no Batuva”, ou “Nova ocorrência engrossa estatística de afogamentos no Lago Batuva”. Porém, há pelo menos duas temporadas, nenhum novo caso tem sido registrado, o que coincide com um fato que pode ser considerado pelo menos curioso para quem não acredita que apenas a técnica, aliada à difusão da informação, possa ser a responsável pelos índices positivos apresentados atualmente.

De qualquer maneira, já são praticamente três anos sem que sejam necessárias grandes operações de busca nas águas do Lago, e que envolvem boa parte do efetivo do Corpo de Bombeiros, além de fatores considerados como variáveis, como a presença das famílias no local.

Sob a guarda da Santa

Alvo de discussão sobre se a sua verdadeira identidade seria mesmo Iemanjá – assim chamada pelos umbandistas – ou outra santa para os católicos, a imagem que acolhe os visitantes com os braços abertos às margens do Lago, e que recentemente foi alvo do ataque a pedradas (provocado por um homem que admitiu a sua aversão às imagens sacras) curiosamente, junto com as estatísticas, aponta para a ausência de novos casos de afogamentos desde a sua colocação. Para os mais céticos, tudo não passa de apenas uma grande coincidência, porém, os mais religiosos atribuem ao poder da santa, e a sua proteção, a segurança dos banhistas e praticantes de esportes náuticos que se deslocam até o Batuva todos os fins de semana de cada novo verão.

Os umbandistas de Sant’Ana do Livramento não abrem mão de acreditar que este é o grande segredo para o fim das ocorrências de afogamento no local. Afinal, já são quase três anos sem novos registros e o período praticamente coincide com a data de colocação da imagem às margens do Lago (2 de fevereiro de 2011).

Mesmo diante da discordância em torno da verdadeira identidade da imagem, o certo é que religiosos santanenses não abrem mão de comemorar o fato positivo, mas que não deixa menos vigilantes os órgãos responsáveis pela segurança no local.

Para o Corpo de  Bombeiros, é técnica

Comandante do 10° CRB – Comando Regional de Bombeiros, o Tenente Coronel Burgel falou sobre o tema, e afirmou que a verdadeira razão para a pausa das ocorrências está diretamente ligada ao trabalho intenso que é realizado pelos salva-vidas a cada novo veraneio. Para ele, é importante, sim, ter fé e ter a crença como parceira para que apenas energias positivas cerquem do local, porém, é fundamental saber que por trás da redução dos casos, está um grupo de homens com olhar treinado e técnica adequada para não apenas retirar as pessoas da água, quando necessário, mas para prevenir eventuais abusos que possam incorrer em situações de risco. “Eu acredito na técnica, sem deixar de lado a fé. Esse sentimento também pode fazer com que as pessoas fiquem mais conscientes e respeitosas e passem a observar melhor os locais de risco. O Batuva tem um local de risco muito evidente, onde as pessoas costumam entrar com seus barcos e jet skys. Nós mesmos, que temos a técnica, a experiência e sabemos nadar, sabemos que, geralmente, os nadadores são vítimas de afogamento. Temos que ter a noção que o corpo apresenta resistências musculares, o que faz com que muitos possam ter cãibras. Nem todas as pessoas têm o preparo adequado para nadar, e quando chegam em um rio se jogam na água, sem o mínimo aquecimento. Na realidade, quando a pessoa está dentro da água, é irreversível. O afogamento é uma das ocorrências mais difíceis de ser atendidas, porque as famílias ficam no entorno das águas, esperando por um milagre. Por mais que alguns membros tenham visto a pessoa se afogar, a espera é dolorosa para eles, e para nós”, afirmou o Major Burgel. 

Ainda segundo o comandante, a redução do número de afogamentos no Batuva também está associada às campanhas de prevenção feitas junto aos meios de comunicação e que acabam alcançando um grande número de pessoas. “Cada vez que se fala no Corpo de Bombeiros e nesse tema, fazemos uma atividade preventiva”, disse.

“Nós mesmos, que temos a técnica, a experiência e sabemos nadar, sabemos que, geralmente, os nadadores são vítimas de afogamento”.

Recomendações

“Para que possamos evitar essas ocorrências existem várias instruções, porém, a mais eficiente é que as pessoas procurem nadar em locais seguros e com a presença de salva-vidas. Pode ser o profissional da Brigada Militar ou, se for em locais particulares, perto dos salva-vidas contratados nessa época do ano. Essas pessoas sabem onde há mais risco e têm condições de passar a informação correta”, disse o Major. Não ingerir bebida alcoólica e cuidar a alimentação – que é considerada um dos fatores críticos e que muita vezes leva ao óbito. No Batuva, desde o dia 23 de dezembro, duas duplas de salva-vidas estão atuando e permanecerão no local até o dia 28 de fevereiro.

DADOS

O último afogamento registrado no local aconteceu em fevereiro de 2009. Das águas do Batuva foi retirado o corpo do jovem W.R.P., na época com 19 anos de idade.

No dia 1° de outubro de 2012, o corpo de um homem foi encontrado boiando sobre as águas, porém, os indícios apontam para a ocorrência da morte em outro local, tendo sido o cadáver depositado no Batuva.

 

Por Cleizer Maciel
cleizermaciel@jornalaplateia.com

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