Batom, corte de cabelo, esmalte nas unhas e… mulheres a mil

Onze mulheres que fazem parte do projeto Mulheres Mil Binacional, coordenado pelo IFSul, em Livramento, recebem tratamento de beleza na sede da UTU, em Rivera

Para Celoíza Soares, 66 anos, o tratamento foi um prêmio à vida dura e cheia de desafios que teve até aqui

Se o objetivo do projeto Mulheres Mil, capitaneado pelo IFSul, campus de Sant’Ana do Livramento, era elevar a autoestima do grupo de 38 mulheres, brasileiras e uruguaias, que participam das atividades propostas pelo menos duas vezes por semana, o mesmo está sendo cumprido. Ontem à tarde, um grupo formado por onze mulheres brasileiras participou de uma verdadeira sessão de embelezamento promovido pelas alunas do Conselho de Educação Técnico Profissional – Universidade do Trabalho do Uruguai (UTU), na vizinha cidade de Rivera. Batons, esmaltes, lápis de olho, brilho, rímel, sorrisos, elogios e vaidade em elevado grau de satisfação foram alguns dos ingredientes que puderam ser encontrados na descontraída sessão de embelezamento pela qual passaram as mulheres. As embelezadoras, todas alunas do curso de cabeleireiro, apesar de já terem concluído toda a carga horária destinada para esse semestre, voltaram ao local especialmente para recepcionar as santanenses e dar a elas uma tarde mágica. Para a professora da oficina de beleza da UTU, Daisy Garayalde, ver a satisfação estampada no rosto de cada mulher que recebeu o tratamento foi a maior recompensa. “É muito gratificante para nós recebermos essas mulheres. É importante também para as nossas alunas saberem que um pouco do que aprenderam aqui, irá fazer a diferença na vida de outras pessoas. Trabalhar a imagem é muito importante para elevar a autoestima. Além disso, foi bom para as nossas alunas para que pudessem perceber o quanto a vida pode se apresentar de forma dura para algumas pessoas, sem que estas possam frequentar um salão de beleza. Ou seja, todas nós aprendemos muito com a visita”, afirmou a professora. 

Troca de experiência

Para as alunas da oficina de beleza, Mara Menezes, 51 anos, e Mirian Machado, 17 anos, a importância de entregar um pouco do conhecimento adquirido a quem, em alguns casos, não frequentava um salão de beleza há mais de vinte anos, foi impressionante. “Não foi o primeiro caso que tivemos de mulheres que não tinham o hábito de retocar a sobrancelha, por exemplo. Mesmo assim, é sempre bom poder ajudar ao próximo, elevar a sua autoestima e fazê-lo ver que a vida pode ser muito mais, apesar de todas as dificuldades”, disse Mara Menezes.

A experiente aluna contou que em um dos casos, ao perguntar para a visitante que cor a mesma gostaria de ver pintada em suas unhas, teve como resposta um sonoro “qualquer uma”. “Quando recebi essa resposta, percebi que estava diante de uma mulher que jamais havia pintado as unhas em toda a sua vida, e sei bem que vaidade é fundamental para nós mulheres. Por isso, estou muito satisfeita com o que estamos fazendo aqui, com essa troca de experiências e com a possibilidade de deixá-las mais bonitas”, acrescentou. 

Mudança de vida

“Sinto-me muito bem. Essa atividade, além de ser um grande estímulo, é também a oportunidade de conhecer outras pessoas e valorizar essa troca de experiências. Dentro do possível, eu procuro ser vaidosa, mas sempre com o que é básico”, disse Eneida Garcia Melo, 48 anos, uma das mulheres que faz parte do projeto Mulheres Mil.

Se para algumas receber o batom, o esmalte nas unhas, o corte no cabelo, faz voltar o brilho nos olhos, para outras, como Celoiza Soares, 66 anos, é como preencher os pulmões com oxigênio e comprovar que existem muitas outras razões para acreditar em dias melhores. “Sou desquitada, tenho quatro filhos e nem sei exatamente quantos netos eu tenho, mas sei que há muito mais de vinte anos, quem sabe até mais, eu não recebia um tratamento completo, assim, de beleza. Nunca tinha dinheiro e a prioridade era cuidar da família sem deixar que nada faltasse. Assim, a vaidade foi ficando sempre em segundo plano. Tenho problema de pressão alta, colesterol alto, já retirei uma das mamas em função do câncer, mas Deus me ajuda sempre a sorrir. Agora, eu penso que se fizer isso mais vezes daqui em diante, a minha vida ficará ainda mais colorida. Não me cuido mais porque às vezes falta dinheiro, mas sei que cuidar da beleza é importante”, disse a mulher que se orgulha de ter criado os quatro filhos sem apoio do marido e, segundo ela conta, sem deixar de sorrir, apesar das dificuldades que lhe foram impostas pela vida.

 

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