O “mensalão” e as eleições municipais

Qual foi a verdadeira influência do julgamento da Ação Penal 470 (o famigerado “mensalão”) nas eleições do último domingo?
Escrevo, por exigência de viagem, segunda-feira, depois de ouvir diferentes opiniões de dirigentes partidários e analistas políticos. De minha parte, posso dizer o que penso sobre Porto Alegre, onde acompanhei de perto a campanha eleitoral, por dever de ofício e de cidadão.
Mesmo à distância, no entanto, é fácil constatar que a maioria dos eleitores votou com os olhos voltados para as administrações das comunidades onde vivem. Foram reeleitos quase todos aqueles políticos que tiveram bom desempenho na chefia dos Executivos. No Rio Grande do Sul, além de Porto Alegre, onde José Fortunati (PDT) foi vitorioso com uma votação excepcional, é possível lembrar Canoas, com Jairo Jorge (PT), Santa Maria, com César Schirmer (PMDB) e Caxias do Sul, com Alceu Barbosa Velho (PDT), ex-vice-prefeito de José Ivo Sartori (PMDB). Todos tiveram suas administrações amplamente aprovadas.
Ainda sobre Porto Alegre: houve, sim, a meu juízo, reflexos do julgamento do “mensalão” no comportamento do eleitorado. A capital gaúcha é uma das cidades sabidamente mais politizadas do país e a reação ao que está acontecendo no STF era vista e sentida nas ruas muito antes de 7 de outubro.
O candidato Adão Villaverde, um bom parlamentar ainda que pouco conhecido, fez uma votação muito aquém daqueles percentuais que o PT sempre obteve na capital gaúcha, nos últimos anos: menos de 10%.
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No plano nacional, um lamento e um aplauso.
De um lado, a declaração inadequada do ex-presidente Lula, ao votar em São Paulo. Perguntado sobre o “mensalão”, ele respondeu que o povo não está preocupado com o processo do STF, só está preocupado com a possibilidade de o Palmeiras ir para a segunda divisão.
Merece registro, de outro lado, a manifestação oficial da ministra Cármen Lúcia, presidente do Superior Tribunal Eleitoral, na véspera da eleição. Fugindo aos jargões dos pronunciamentos de sempre, usou uma linguagem em certos momentos literária para se referir ao processo eleitoral. Com a sensibilidade de mulher, ela disse aos brasileiros:
- Você é livre para votar em quem quiser como seu representante. Quem é livre é responsável. E responsabilidade é libertação do que foi e não deu certo, do que deu certo, mas pode ser melhor. Vote limpo, porque o Brasil merece.
Ela também destacou que a Lei da Ficha Limpa é de autoria dos cidadãos e arrematou:
- O Brasil que queremos é o Brasil justo, igual, honrado e limpo. Não é que seja fácil, mas viver também não é. E seguimos vivendo. E você, cidadão, é autor da sua história, e o amanhã se planta hoje. No seu voto, você escolhe o seu presente e prepara o futuro. O voto não é apenas um nome: é o país em construção. Juntos, traçamos o nosso rumo, aproveitando o vento, mas desenhando nossa própria rota.

 

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