CORRUPTOS E O VOTO

Causa perplexidade em todas as eleições, políticos tidos como corruptos conseguindo expressivo número de votos. É bem verdade que em razão da nova legislação eleitoral, muitos acusados por corrupção que já tenham tido condenações em colegiado estão sendo excluídos. Entretanto, são conhecidas as denúncias determinantes de processos que se arrastam por muito tempo e demoram até a condenação. Neste transcurso é possível registrar a candidatura e até ser eleito. Mas, várias razões determinam essa escolha desqualificada dos candidatos. Em primeiro lugar, mesmo com a extraordinária evolução da comunicação, para a grande maioria da população falta informação. Com efeito, a massa eleitoral escolhe seu representante sem ter oportunidade de avaliar a ficha corrida, seus antecedentes e a participação em eventos que possam caracterizar corrupção. Em segundo lugar, o cidadão desconhece o funcionamento do sistema político. Isto dificulta compreender porque um determinado comportamento ou informação caracteriza impedimento ao voto. Somente se sensibiliza quando as evidências são tão grandes que viram voz corrente. Muitas vezes são tantas as denúncias, que o eleitor se confunde. Aí vota no corrupto, porque não distingue. Em terceiro lugar, mesmo com pouca instrução, os eleitores consideram na sua escolha outros fatores como vínculos pessoais, ideologia, religião e capacidade dos candidatos. E, sendo assim, estes elementos somados podem ser mais determinantes na opção do que a acusação de corrupção. Em quarto e mais considerado nos tempos atuais, é o benefício pessoal que vai receber com o voto em um determinado candidato. As vantagens no caso podem não alcançar algo pessoal, mas direcionado para um setor ou segmento onde o eleitor tenha interesse, ou ainda se traduzir em uma obra prometida. Na verdade, diante das razões elencadas e de tantas outras particularidades, a grande maioria dos eleitores tendem a minimizar ou não acreditar nas irregularidades apontadas contra determinado candidato. Por todas estas razões é que os instrumentos de transparência necessitam ser ainda mais estimulados. A ficha limpa é uma conquista e precisa continuar a ser aperfeiçoada. Quem sabe a imputação de determinado crime em decisão de primeira instância já poderá excluir os candidatos nos próximos pleitos? Na realidade, se constitui um grande paradoxo, políticos tidos como corruptos continuarem merecendo votação expressiva nas eleições. Ética e conduta são pressupostos fundamentais para o exercício de qualquer atividade, mas sobremaneira para a política. Enquanto estivermos submetidos a situações como as que acontecem no Brasil, consagrando a corrupção, a democracia estará ameaçada porque a escolha nestas circunstâncias desqualifica a representação. Talvez por estas e outras razões temos atualmente um grande movimento global em favor da democracia direta. São manifestações sem partido defendendo um novo sistema, liderado por cidadãos comuns, livres de lobies ou de influências econômicas para decidir na plenitude sobre os grandes temas e capazes de produzir as reformas que a população anseia, mas não acontecem nunca. Como mais um pleito se avizinha, fica a reflexão para aqueles que desejarem fazer uma escolha de seus candidatos pelo que representam, pautados pela trajetória ilibada e procedimento de ficha limpa.

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