Exemplos de superação, cadeirantes fazem do esporte a sua inclusão

Grupo supera limites praticando o basquete sobre rodas

Cadeirantes treinam três vezes por semana, no Ginásio Guanabara

Superar limites. Este sempre foi o maior desafio do ser humano. A vida apresenta para todos nós desafios diários de inclusão, de inserção em meios sociais. Desde os primórdios, as pessoas se agrupam, e incluir-se nesses grupos tem sido o maior desafio da vida moderna. Mas este desafio torna-se maior quando o envolvido possui limitações físicas. Porém, a vitória tem um sabor muito mais doce.

Enfim, para um grupo de pessoas limitadas fisicamente esta luta acaba sendo diária. Não pela inclusão, mas pelo respeito aos seus direitos. Quando se fala em limitações, logo se fala em acessibilidade. Mas poucas pessoas entendem que a verdadeira acessibilidade deve ser universal, não só para cadeirantes, mas para idosos, crianças, gestantes, amputados e outras pessoas.

Buscando superar estes limites, um grupo de cadeirantes santanenses tem praticado um esporte muito difundido pelo mundo todo: o basquete sobre rodas.

A ideia vinha sendo amadurecida há mais de cinco anos, devido à importância de os deficientes físicos, após o período de fisioterapia, darem continuidade à rotina de exercícios. “Começamos a pleitear a ideia de inclusão social dentro da ASSANDEF (Associação Santanense de Deficientes Físicos) por meio do esporte, e o mais viável para nós acabou sendo o basquete. No início, eles jogavam em cadeira normal, aquelas de uso diário da instituição. Aos poucos, consideramos a ideia de comprar cadeiras específicas, e conseguimos aquelas próprias para o esporte, utilizadas pelas melhores equipes do Brasil”, conta o professor Carlos, treinador da equipe. Depois de adquirir as cadeiras, o grupo começou a treinar com mais regularidade, em aulas com o professor Carlos, depois com o professor Arci, que trabalhou até o início desse ano. Atualmente, o professor Carlos voltou a treinar o grupo, que se reúne três vezes por semana, por uma hora e meia.

O sorriso no rosto é a marca registrada dos atletas

“A ideia principal do esporte é a inclusão social. Dentro disso, sempre que pudermos, vamos tentar participar de competições. Inclusive, mês passado, fomos à cidade de Pelotas jogar contra o time da ESEF (Escola Superior de Educação Física) da UFPel (Universidade Federal de Pelotas)”, contou o professor. No grupo, participam cerca de 11 atletas, independentemente da idade. Alguns são amputados, tetraplégicos, paraplégicos, com paralisia parcial, são várias lesões apresentadas, mas o mais importante é que, apesar das limitações, eles provaram que podem ter uma vida normal.

DUAS HISTÓRIAS EM QUE A VONTADE DE VIVER IMPERA

Em 12 de setembro de 2007, José Gabriel Machado da Conceição, 53 anos, sofreu um acidente de trabalho que resultou na amputação de sua perna. A partir daí, ele buscou ajuda e conseguiu uma prótese. Porém, José Gabriel, frequenta assiduamente a ASSANDEF, interagindo no basquete sobre rodas. “Sinto-me bem, gosto do que faço, e saio da rotina nessas atividades que praticamos”, relata. “Graças a Deus, sempre contei com o apoio da minha família, dos amigos e da ASSANDEF, que sempre nos apoiou bastante. Tenho vida normal, a única coisa que atrapalha são as dificuldades do salário da aposentadoria, por exemplo. Mas eu não desisto, ainda quero ir para outras cidades jogar basquete”, completa.

Há dois anos e meio, Luciano Ferreira Fialho, 27 anos, possui uma lesão chamada tetraplegia, que o fez perder os movimentos das mãos e das pernas, devido a um mergulho raso na praia. Desde essa época, Luciano participa ativamente das atividades da ASSANDEF, inclusive fazendo parte da equipe diretiva. “Não era para eu jogar, pois tenho tetraplegia, mas eu aceitei o desafio e estou aí, treinando com o pessoal e buscando a inclusão. Posso não vir a ser o melhor atleta, mas estou fazendo de tudo para que, pelo menos, possa jogar”, diz Luciano. A ideia do grupo, segundo Luciano, é tirar o pessoal que está em casa, sem perspectiva, e trazer para as quadras. “Nosso trabalho é em busca da inclusão social e também proporcionar divertimento ao pessoal”. Segundo ele, a inclusão social já é satisfatória, embora a cidade ainda sofra com o problema da acessibilidade. “O acesso a prédios é quase impossível e o transporte coletivo apropriado não existe. Eu, por exemplo, estudo à noite e tenho que pagar táxi todos os dias, pago táxi para minha fisioterapia, e tudo isso complica um pouco a nossa vida”, denuncia Luciano, que tem planos de fazer curso superior, formar-se em alguma área ainda não escolhida e ter como se manter sem depender de terceiros.

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