O SILÊNCIO DA CULPA

Ficar calado para não produzir provas contra si mesmo é uma prerrogativa dos réus e foi assim, silencioso e um tanto irônico nos gestos faciais, que Carlinhos Cachoeira se comportou na audiência da CPI desta terça-feira. Ele apenas seguiu as instruções de seu advogado, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.

O silêncio de Carlinhos Cachoeira não surpreendeu ninguém. Todos os senadores e deputados sabiam que esse seria o seu comportamento, mesmo assim a sessão da CPI se prolongou por duas horas e meia e serviu de palco para alguns parlamentares aproveitarem os spots das emissoras de tevê. Aí, o bom senso terminou prevalecendo e a sessão foi encerrada, depois de ficar marcada uma nova reunião, esta após o depoimento de Cachoeira na Justiça Federal de Goiás.

Alguns parlamentares aproveitaram seu tempo para dizer o que pensavam a respeito do caráter de Cachoeira, como a senadora Kátia Abreu (“bandido”), o senador tucano Álvaro Dias (“marginal”), o deputado gaúcho Ônix Lorenzoni (“arrogante”) e o próprio relator da CPI, o petista Odair Cunha (“chefe de quadrilha”).

Carlinhos Cachoeira mesmo com uma pose arrogante como disse Ônix Lorenzoni ficou trêmulo quando o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) sugeriu que sua atual mulher (a grande atração dos fotógrafos por sua beleza escultural) ou sua ex-esposa talvez fossem convidadas a depor na CPI.

Houve também a sugestão do experiente deputado paulista Mendes Thames para que na próxima sessão da CPI houvesse uma acareação entre Cachoeira e o ex-diretor do Dnit Luis Antonio Pagot. Para Thames, numa acareação sempre um dos interrogados acaba falando e isso provoca a quebra de silêncio de quem estava calado.

O que pode deduzir da sessão que ia ouvir Carlinhos Cachoeira é que o mutismo do depoente sirva de modelo para outros que irão depor, já que se trata de uma técnica legal protegida pela Constituição.

Cachoeira vai depor na Justiça Federal de Goiás nos dias 31 deste mês e em primeiro de junho. Após essas audiências, o empresário-bicheiro voltará à CPI conforme ele mesmo prometeu no início de seu depoimento: “Depois de falar ao juiz eu respondo as perguntas dos senhores”, disse.

THOMÁS BASTOS (1)

O ex- ministro da Justiça Márcio Thomás Bastos esteve o tempo todo sentado ao lado de Carlinhos Cachoeira e conversou muito pouco com ele. A instrução básica – silêncio total – foi cumprida inteiramente pelo seu cliente.

THOMÁS BASTOS (2)

Em todas as manifestações dos parlamentares houve uma saudação especial para o ex-ministro da Justiça que é muito bem relacionado no Congresso Nacional desde que serviu ao presidente Lula em seu primeiro mandato.

THOMÁS BASTOS (3)

Mesmo assim, a senadora Kátia Abreu não deixou de criticar Thomás Bastos, lembrando que o famoso advogado cobrou R$ 15 milhões de honorários para defender Cachoeira: “Os 15 milhões do senhor Cachoeira estão seqüestrados. De onde virá o pagamento milionário do senhor Márcio Thomas Bastos?”

SIGILO DA DELTA

A Construtora Delta estava com seu sigilo bancário quebrado apenas numa das áreas de atuação da empresa, a Região Centro-Oeste, através do escritório de Brasília. O deputado Ônix Lorenzoni, no entanto, revelou que o ex-diretor Claudio Abreu tinha poderes para fazer operações bancárias em nível nacional. Logo, entende o parlamentar gaúcho que se torna necessária a quebra do sigilo bancário em todo o país.

SIGA O DINHEIRO

A regra para se apurar crimes é a de seguir o dinheiro. Devassar a Delta pode ser a chave do sucesso da CPI. Já notaram a pressa que houve em se negociar a empresa para a JBS, com apoio do BNDES?

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