Tsunami Monetário

O capital é móvel e está sempre a procura da melhor remuneração. Com a globalização, mesmo o retorno estando do outro lado do mundo ou numa garagem de quintal de uma pequena cidade desconhecida, vai ao encontro do ganho extraordinário. Acrescente-se a esta realidade o incrível avanço tecnológico, através da rede mundial, que valoriza bens intangíveis e possibilita a transferência instantânea de grande volume de recursos, alterando a dinâmica dos mercados e a sua lógica aparente. Seguramente é com esta percepção que a Presidenta Dilma vem falando de um “tsunami monetário”, pauta do recente encontro realizado na Alemanha, que neste momento vem liderando o esforço europeu para superar a severa crise que atinge os países daquele bloco. E então, como conseqüência do novo ordenamento que a União Européia vem realizando, ocorre uma generalizada queda na taxa de juros e redução na atividade econômica local. Este cenário, que alcança a quase totalidade dos territórios do mundo, deverá determinar que os investidores dirijam seus recursos para os emergentes com juros mais altos e onde as perspectivas de crescimento ainda persistem. Portanto, é notório que no Brasil e nas demais regiões em desenvolvimento se concentram as principais oportunidades. Obras, infra-estrutura e mercado de consumo vigoroso, com a inclusão e a melhoria na renda de milhões de pessoas fazem a diferença nas escolhas econômicas. Esta em síntese é a razão da “grande onda” vinda de outros países na nossa direção, representada por um agressivo fluxo de capitais. Por várias fontes, está estimado em 5 trilhões de dólares o montante que os bancos centrais vêm emprestando ao sistema bancário desde 2008. E para ter uma idéia concreta deste movimento, em dezembro passado o Banco Central Europeu emprestou 489 bilhões de euros a 523 bancos e está liberando mais 529 bilhões de euros para 800 bancos. Esta política das Autoridades Monetárias, na nossa opinião, está equivocada porque subordina as populações a este único fim, com desemprego e perda na qualidade de vida das pessoas, como as multidões tem expressado em protestos nas ruas e nas praças. Em síntese, entre salvar as instituições financeiras e o bem estar das pessoas os governos escolhem salvar os bancos. Este proceder efetivamente tem como objetivo oferecer liquidez a todo o sistema financeiro e impedir que um banco entre em colapso, comprometendo a combalida União Européia. Ademais, como naquele ambiente o crédito está escasso e a atividade econômica é negativa, toda esta dinheirama está sendo aplicada em títulos, os mais seguros possíveis, mas de baixa remuneração. Esta realidade, portanto, faz compreender a procedência das preocupações da Presidenta Dilma com o violento fluxo de capitais e suas conseqüências, bem como com o possível incremento deste movimento no futuro. Com efeito, é pouco crível que estes trilhões acumulados em papéis e fundos ficarão parados por muito tempo com remuneração baixa ou negativa. É fácil imaginar a irracionalidade que será criada a partir desta movimentação se ela vier a acontecer. Sobe e desce das moedas, ativos supervalorizados, especulação, fraudes e altos riscos. Procedem, portanto, as medidas monetárias e comerciais que estão sendo adotadas pelo Governo Federal na redução da taxa de juros e proteção aos produtos locais na competição global. Se estas políticas serão suficientes para suportar as pressões de um mundo dominado pelo capital financeiro só o tempo dirá.

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