Trabalho pioneiro com cães farejadores
Consultoria ambiental Simbiota promove ação diferenciada em parques eólicos
Labradores são escolhidos por terem ótimo faro, serem obedientes e gostarem de trabalhar
Há muito tempo o faro apurado dos cães tem sido usado pelo ser humano para os mais diversos fins, como em caçadas ou para facilitar o trabalho da polícia. A novidade, trazida ao Brasil pela Simbiota, é a utilização de cachorros treinados para dar mais precisão as suas atividades, na localização de carcaças de aves e morcegos em parques eólicos.
De acordo com a bióloga Mariana Faria-Corrêa, responsável técnica pelo trabalho, a Simbiota se inspirou nas atividades realizadas por duas empresas portuguesas. “A finalidade do trabalho é localizar os animais mortos em virtude de um empreendimento, como linhas de transmissão ou aerogeradores em parques eólicos, monitorando antes da instalação dessas e depois, avaliando a real contribuição dessas estruturas para essas mortes”, explica a bióloga.
A empresa conta com dois cachorros da raça labrador, escolhida por ser obediente e ter ótimo faro, além de gostarem de trabalhar. O princípio é o mesmo utilizado com cães treinados pela polícia: os farejadores da Simbiota trabalham em dupla com um condutor também treinado para a localização de carcaças. Assim, o trabalho de técnico e cão se complementam.
Maior precisão
Conforme levantamento feito por empresas estrangeiras que utilizam cães farejadores neste tipo de trabalho, o uso dos animais aumenta em muito a precisão do trabalho em campo. Os técnicos tendem a encontrar 10% das carcaças, enquanto no trabalho com cães esta porcentagem sobe para 95%. Os animais se mostram mais eficientes do que o ser humano, especialmente na localização de carcaças mais distantes dos aerogeradores.
A maior precisão no trabalho realizado com cães pode ser atribuída ao maior diâmetro interno do nariz canino, local onde ficam as células sensoriais olfativas. Estimativas apontam que os cachorros teriam mais de 220 milhões de células olfativas, enquanto nos humanos, encontra-se apenas cerca de 5 milhões. Por isso, a sensibilidade olfativa dos cães é de 100 mil a 100 milhões de vezes maior que a do ser humano para algumas substâncias.
Entrevista
A Plateia – Qual a importância de encontrar essas carcaças nos parques eólicos?
Mariana - Parques Eólicos são empreendimentos que, em geral, exercem poucos impactos negativos ao meio ambiente, pois utilizam uma fonte renovável de energia (vento) e não necessitam intervir de maneira agressiva no ambiente onde são instalados (ao contrário de uma hidrelétrica, por exemplo, que necessita construir um barramento, desmatar uma área considerável que será alagada, etc). Apesar disso, um Parque Eólico altera a paisagem com suas estruturas verticais, os aerogeradores. Com relação à fauna nativa, os principais impactos previstos são aqueles relacionados aos animais voadores, como aves e morcegos. Apesar de muitos terem a capacidade de se adaptar a modificações em seu meio, alterando suas rotas de voo, colisões desse animais com as estruturas dos aerogeradores são constatadas em parques em todo o mundo. Assim, o monitoramento de carcaças pode revelar o impacto real dos empreendimentos sobre essa fauna. O monitoramento de carcaças deve iniciar antes da implantação do primeiro aerogerador, revelando dados de mortalidade de aves e morcegos antes dessas estruturas, sendo possível comparar com os dados com o empreendimento em operação.
A Plateia – Que outros empreendimentos poderiam fazer uso desse serviço?
Mariana - Cães treinados podem ser úteis em muitos estudos e já são utilizados no mundo todo, aumentando a eficiência na busca e rastreamento de odores específicos. No caso de carcaças, além dos parques eólicos, nossos cães também estão aptos a fazerem o monitoramento em linhas de transmissão de energia elétrica e rodovias (animais atropelados). O FARO Simbiota é um programa que se propõem a aliar os conhecimentos técnicos de biólogos experientes às habilidades de cães bem treinados. Assim, há inúmeras possibilidades, desde monitoramento de aves em aeroportos a detecção de odores de animais específicos para pesquisas científicas. Tudo inicia com uma pergunta e um estudo de como respondê-la da maneira mais eficiente.
A Plateia – Quais os parques que utilizam esse serviço de cães hoje?
Mariana – No Brasil, até onde sabemos, não há outra empresa trabalhando com cães com essa finalidade, sendo um serviço pioneiro e exclusivo da Simbiota. Nossos cães estão trabalhando desde outubro de 2010 mensalmente em dois Parques da empresa Fortuny, um em Jaguarão, com licenciamento do Ibama e um em Livramento, com licenciamento da Fepam. Ambos os Parques ainda não foram implantados. Os resultados têm sido excelentes, com 100% de eficiência nos testes de detecção. Há outros clientes ainda em acerto para iniciarmos novos monitoramentos ainda esse ano.
A Plateia – Como é o treinamento dos cães?
Mariana - Os cães são selecionados ainda bebês, conforme características que mostrem aptidão para o trabalho. O treinamento é feito pela equipe da Simbiota, que cuida e acompanha todo o desenvolvimento dos animais. A primeira parte do trabalho é o cuidado básico com os cães, ainda filhotes. Depois, o treinamento de obediência básica e, então, o trabalho de faro especializado para busca de carcaças. O cão não fica pronto antes de completar um ano e meio – dois. É um trabalho bastante minucioso e contínuo, exige muita dedicação, comprometimento e investimentos financeiros, não há feriado ou fim de semana, os animais têm que ter todo acompanhamento veterinário e cuidados extras para estarem na melhor forma física e técnica em campo.
A Plateia – Quais outras ações da Simbiota?
Mariana – A Simbiota é uma empresa de consultoria ambiental especializada em estudos do meio biótico. Trabalhamos com licenciamento ambiental e temos vasta experiência no assunto, especialmente na área de energia (hidrelétricas, eólicas, termelétricas). Criamos o projeto FARO Simbiota por acreditar que é possível fazer algo melhor e de maneira mais eficiente, além de gostarmos muito de cães. Gostaria muito de divulgar o site e o blog, onde atualizamos as informações constantemente: www.simbiota.com.br ou www.simbiota.blogspot.com
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