Metade da população santanense depende de benefícios do governo

Encabeçando a lista, o Bolsa Família já atende cerca de 30.000 pessoas do município que tem, de acordo com o último censo do IBGE, pouco mais de 82.000 habitantes
“Há um dado que ainda é mais alarmante. A grande maioria das famílias que recebe o Bolsa Família vive em situação de extrema pobreza”.
Bento Carrasco, Coordenador do Programa Bolsa Família em Sant’Ana do Livramento

Se para alguns é apenas complemento, para outros é indispensável e serve como um verdadeiro motor para garantir a sobrevivência. Criado para reduzir a pobreza extrema, o Bolsa Família, tão contestado por diversos setores da sociedade brasileira, transformou-se, com o passar do tempo, em uma ferramenta que aproxima as pessoas do consumo de alimentos mais saudáveis e impõe a necessidade de resultados melhores na educação. Apesar do aumento do número de pessoas empregadas no Brasil, ainda existem muitos desempregados. Desse número, também uma grande parte da população está empregada, mas a renda familiar ainda é insuficiente para garantir o sustento da família e melhores condições de vida. E é nesse exato momento que entra o Bolsa Família.

No caso do Brasil, a principal ferramenta utilizada atualmente para redistribuição de renda é o programa social Bolsa Família, inspirado no programa Bolsa-Escola. Foi criado na cidade paulista de Campinas em 1994, o qual passou a ser implantado também por outros municípios e, que dada à sua funcionalidade e seus resultados positivos, acabou por ser implantado em 2001 pelo governo federal, na gestão de FHC, como forma de redistribuição de renda. Dessa forma, a meta dos governos tem sido, sucessivamente, tentar reduzir cada vez mais a desigualdade. Os sérios problema de distribuição de renda entre as regiões brasileiras e seus habitantes, levaram, com o passar dos anos, à criação de um verdadeiro abismo social, fazendo com que muitos, no período anterior à entrada em vigor do benefício, viessem até mesmo a sucumbir de fome. Municípios como Sant’Ana do Livramento, por exemplo, conhecidos por sua distribuição de renda desigual, tem evidenciada a sua pobreza extrema através da divulgação de números que comprovam que praticamente a metade da população depende de algum tipo de benefício fornecido pelo Governo Federal para se manter.

Números que impressionam e impactam na economia local
Beneficiários do Bolsa Família são os responsáveis por boa parte dos recursos que giram na região periférica da cidade e dão uma sustentação segura para o comércio dos bairros

Na casa de Tânia Mara Coelho Ramos, 50 anos, o Bolsa Família dos três dos sete filhos, pouco mais de R$ 200,00, garante parte do sustento da família

O grande número de santanenses beneficiados pelos programas sociais do governos federal, acaba revelando dados que ficam submersos quando há a necessidade de revelar os rostos dos cidadãos beneficiados.

De acordo com o coordenador do Programa Bolsa Família em Sant’Ana do Livramento, a cidade possui atualmente 6.570 famílias recebendo o benefício. Destas, 6.223 estão em condição considerada de pobreza extrema, número que pode atingir pouco mais de 24 mil pessoas, levando em consideração uma média de quatro pessoas por domicílio beneficiado.

Um número considerado alto para uma cidade com uma população de 82.464 pessoas, segundo o último censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. “Em média, são cerca de mil atendimentos a cada mês na secretaria de Assistência Social, e que vão atrás de informações sobre algum tipo de benefício que precisa ser encaminhado através da pasta. As pessoas vão buscar informações sobre diversos pontos que estão vinculados ao chamado Cadastro Único”, revelou Carrasco. De acordo com os dados revelados pela Secretaria Nacional de Renda e Cidadania que concentra as informações relacionadas ao chamado Cadastro Único e do Programa Bolsa Família, atualmente são 10.425 famílias com estimativa de baixa renda.

Esse número, levada ainda em consideração a média de quatro pessoas por domicílio atendido, significa que a metade da população santanense depende diretamente do governo para se manter.

“O cadastro concentra famílias com renda de até três salários e o bolsa família concentra pessoas com até R$ 140,00 (cento e quarenta reais) de renda por mês. Tem um número mais alarmante ainda, que está demonstrado na quantidade de pessoas que são beneficiadas pelo Bolsa Família e que recebem uma renda per capta de até R$ 70,00 (setenta reais). Esses estão em uma linha considerada de extrema pobreza”, revelou Bento Carrasco.

Uma grande folha de pagamentos

Segundo o coordenador do Bolsa Família, Bento Carrasco, somente em 2011, foram pagos aos beneficiários do programa, em Sant'Ana do Livramento, R$ 10.131,753

Somente em 2011, foram pagos aos beneficiários do Bolsa Família em Sant’Ana do Livramento, R$ 10.131,753 (dez milhões, cento e trinta e um mil e setecentos e cinquenta e três reais). “O perfil das pessoas que precisam mesmo é muito grande. O dado que alarma mais do que número é o que está demonstrado nas pessoas com renda menor. Esse sim é um número que assusta, porque recebem o básico. Aí é que está o grande “x” da questão. São pessoas que vivem com valores que giram em torno de R$ 280,00 (duzentos e oitenta reais) para passar trinta dias”, afirmou o coordenador, Bento Carrasco.

Ainda segundo Carrasco, a nova atualização vai fazer com que muitas pessoas que não teriam direito a receber o benefício deixem de receber e aqueles que realmente precisam passem a contar com os valores a cada mês. O valor que entrou em Livramento em 2011 foi no mínimo R$ 2 milhões a mais do que em 2010. “Aumentou o valor depositado, mas não quer dizer que tenha aumentado o número de pessoas beneficiadas”, afirmou Carrasco, ao confirmar que são cerca de R$ 30 milhões por ano que circulam no município, somados os demais municípios.

“Se não fosse o Bolsa Famílias, as condições dessas pessoas seria muito pior. Seria muito complicado sem isso. Muitas pessoas não estão qualificadas para atuar em áreas que lhes dariam uma melhor renda. Sinto que as pessoas têm que melhorar mas muitas não querem. Foram apresentados cursos gratuitos e muitos não quiseram. É uma briga para achar quarenta pessoas do Bolsa Família para fazer um curso de qualificação. Eles não querem, infelizmente.

Quanto menos capacitação as pessoas têm, menos querem se qualificar. Quem já é qualificado é que vai buscar cada vez mais qualificação”, afirmou o coordenador.

Dinheiro que gira e mantém vivo o comércio nos bairros

A comerciante Carla Massaque sabe que parte do dinheiro que entra no seu caixa é proveniente do Bolsa Família

Comerciante há 11 anos, Carla Massaque, 31, diz que boa parte do dinheiro que gira na Vila Real, um dos pontos que apresentam maior crescimento na cidade, provém dos beneficiários do Bolsa Família. Depois que passa o dia 20 de cada mês, e até o dia 10, os comerciantes começam a receber os pagamentos dos moradores, e nesse período as pessoas ajudam a movimentar o comércio.

É bom para todos, pois todos saem ganhando e conseguem se manter nesse círculo”, afirmou a comerciante.

 

 

Por Cleizer Maciel

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