Deus, Terra de Deus, Filhos de Deus, Partícula de Deus

Quando Santo Agostinho começou sua caminhada espiritual, foi induzido a engano pela ilusão de imaginar Deus como algo definido,delimitado, contado, pesado, dividido, com se Deus fosse muito grande. Até que um diretor espiritual alimpou todas essas ideias oferecendo a ele simplesmente o Deus de amor, não infinito no sentido de que não o conseguimos medir, mas no sentido de que é inútil medir o que não possui medidas. Deus não tem passado nem futuro, porque tudo isso se mede, e medidas há para tudo que não é Deus. Deus seria muito não-deus se, em milhões de eternidades, em eternidades de eternidades, chegássemos a contabilizá-lo. Deus não tem aqui nem ali, porquanto é inútil procurar quem simplesmente é humilde o suficiente para não se impor; já viram que Deus não impõe sua presença, ele simplesmente está presente a nós. Deus não tem menos nem mais, ele simplesmente é, para permitir que nós sejamos, para garantir a nossa serência, como diria Monteiro Lobato. E foi lendo o Sítio do Picapau Amarelo que tive, em criança, a mais bela noção do essencial que é Deus. A língua inglesa tem duas expressões que nos aproximam da humildade de Deus: God’s Land, que parece ser terra de Deus mas o português traduz apropriadamente como terra de ninguém e até God’s Sohns, que alguém traduziu como filhos de Deus, mas o certo será filhos sem pai nem mãe. Deus não é proprietário, nem nada lhe pertence, simplesmente criou por amor. Surge agora nos jornais e nas revistas científicas a expressão Partícula de Deus, uma figura subatômica que estão procurando como que visualizar num círculo de trinta quilômetros construído a cem metros abaixo do solo, num território situado entre a França e a Suíça; já foi chamada de partícula maldita, sendo que partícula de Deus corresponde em grande parte ao mesmo conceito em inglês. Hawkins, o cientista que apenas se comunica com três dedos sobre um computador já deu seu recado, negando a existência dessa partícula. Quando foi lançado o texto italiano de Dio! come ti amo, Deus, como te amo, pensavam que fosse um canto místico; não era, Dio! em italiano é como Meu Deus! Virgem Maria! simplesmente uma interjeição. Então Deus? Santo Agostinho diz assim, nas Confissões, em tempo Confissões da misericórdia de Deus e não dos pecados propriamente: O altíssimo, bom, poderosíssimo, misericordiosíssimo, justíssimo, ocultíssimo, presentíssimo, belíssimo e fortíssimo, estável e incompreensível, imutável que tudo muda, nunca novo nunca antigo, tudo inovando, sempre em repouso; carregando, preenchendo e protegendo; criando, nutrindo e concluindo, buscando ainda que nada te falte, Deus. Amas e não te apaixonas; tu te arrependes sem sofrer; és cioso porém tranquilo; mudas as coisas sem mudar teu plano, reccuperas o que encontras sem nunca ter perdido; nunca estás pobre, mas te alegras com os lucros. Quem possui alguma coisa que não seja tua? Pagas as dívidas, sem que devas a ninguèm, e perdoas o que te é devido, sem nada perderes. Meu Deus, vida de minha vida. Que consegue dizer alguém quando fala de ti? Mas ai dos que não querem falar. (Confissões – Tradução de Maria Luiza Jardim Amarante). Se Deus fosse infinito como quem não para de ter tamanho, não caberia na Hóstia de Comunhão, nem no Menininho do Presépio, nem no nosso coração e em nossas vidas.

Agapito Prates Paulo.

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