Botticellli – O Nascimento de Vênus

Botticelli, e todos os outros, são os meus pintores preferidos. Eu tinha no mini-museu particular, que todos devemos colecionar de cartões postais e revistas, o quadro de que dou aqui o retrato falado; se alguém encontrar, procure gratificação. Chovem rosas de Chipre sobre o rosado e amável corpo de Vênus. As ondas, ondinas, marolinhas espumosas, perecíveis, quase que inexistentes, passageiras e presentes sempre, assim mesmo, oferecem aos olhares um corpo de mulherzinha recoberto, em exígua e recatada parte, do fino sendal de longos, dourados, irrequietos cabelos.

Rejeita ou simplemente ignora outro manto ou lençol de mais brocados, que a Primavera, creio, lhe oferece, aberto, esvoaçante, inútil porque agitado pelos ventos que sopram: vem de Éolo, o das energias eólicas, e de Cupido, anacrônico nessa hora mas teimoso frecheiro de corações destinados ao amor, e importa que seja, ao mesmo tempo, Amor Filia, Amor Ágape, Amor Eros. Tudo é quietude e voluptuosidade nas praias, e angras, e abertas baías revestidas de grama, junto às florestas de troncos altaneiros e firmes, folhas rígidas e perenes. O corpo, ereto, quinzeaneiro, rosa-pálido, equilibra-se graciosamente, mas a cabeça está inclinada, pisando leve, não sei se levianamente sobre uma concha milenar que a profundidade do pélago primitivo lhe proporciona como embarcação repleta de ampla serenidade, prometedora de futuras felicidades.

Os caniços de papiro da margem contrária são promessas de amor e de beleza, escrevo tropeçando sobre conceitos e valores da única deusa cujos atributos arquétipos o Criador não quis destruídos após o pecado do casal que foi expulso do paraíso, antes alegrou-se e ainda mantém aquela espécie de bênção transmitida com amor e carinho paternal, “a única não retirada pela pena do pecado original, nem pela sentença do dilúvio” – Bênção Nupcial litúrgica na Igreja Romana – antes como pai amável alegra-se porque eles a levaram, na dualidade dos corpos e almas integrados, jardim fechado e ao mesmo tempo mar aberto para a vida e a felicidade no meio dos trabalhos e dificuldades da existência, e que provém e mantém-se, ao mesmo tempo durável, infinita e eterna – o mundo de hoje esqueceu disso – leia o dezessete e outros versículos do Capítulo Quinze de João – provém e se mantém do e no “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.”

Agapito Prates Paulo

 

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